No último dia útil de 2016, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou o
50º pedido para criar uma agremiação política no Brasil, o Partido
Democrático dos Servidores Públicos (PDSP). Além desta, outras 49
aguardam análise da corte para saber se poderão participar de disputas
e ter acesso a um quinhão do Fundo Partidário, mesmo após o Senado
aprovar medida que restringe os direitos de siglas que não atingirem
patamar mínimo de votos.
O jornal O Estado de S. Paulo procurou representantes de todas essas
siglas e, dos 25 que responderam, indicaram que a chamada cláusula
de barreira não vai inibir que iniciativas como a dos entusiastas do PDSP
continuem a prosperar no País. A maior parte dos postulantes afirma não
temer as implicações da nova regra e nenhum deles pretende desistir do
pedido no TSE.
“Essa barreira não nos atinge”, afirma José Eloy da Silva, presidente do
Partido da Mobilização Popular (PMP). “Os partidos podem até diminuir,
mas não vão acabar”, diz.
A cláusula de barreira, aprovada na Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) da reforma política, determina que cada sigla obtenha, no mínimo,
2% dos votos válidos no País para ter direito à verba do Fundo Partidário
e ao tempo de propaganda em rádio e TV. A meta deve ser alcançada em
pelo menos 14 Estados e, a partir de 2022, o porcentual aumenta para 3%.
Para valer em 2018, porém, a proposta ainda precisa passar pela Câmara,
que nem sequer começou a discuti-la.
Para Andréa Freitas, cientista política da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), o número considerado excessivo de partidos se deve a erros do
próprio TSE, que em 2012 permitiu que o recém-criado PSD tivesse acesso
a uma fatia maior do Fundo Partidário. “Depois da explosão de partidos em
2012 ou 2013, é muito necessário que a gente limite o acesso de dinheiro a
quem não tem representação. Partido virou uma máquina. Você cria partidos
para fazer negócio, quando deveria ser criado se o sujeito olha para a política
e vê falta de representação”, afirma.
Um dos pontos da PEC usado como argumento para que siglas continuem a
procriar no País é a criação das federações de partidos, que substituiriam as
atuais coligações. Com isso, legendas que não atingirem o mínimo de votos
podem se unir e ter funcionamento parlamentar como um bloco. Assim,
também têm acesso a recursos do Fundo Partidário.
“A dificuldade não vai nos parar. Estamos prontos para aproveitar todas as
brechas do sistema para conseguir criar e implementar o partido”, afirma
César Augusto Alves de Lima, presidente do Partido Universal do Meio Ambiente
(Puma), outra das agremiações na fila do TSE.
A ideia, porém, não agrada a todos os partidos em formação. “Não vamos nos
unir a ninguém”, diz Capitão Augusto, idealizador do Partido Militar Brasileiro
(PMBR). Esta e outras legendas, como Renovar (RNV), Partido de Organização
Democrática dos Estudantes (Pode) e Partido do Esporte (PE) se consideram
“ideológicas”.
Na avaliação de José Paulo Martins Junior, coordenador do curso de
Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(Unirio), se vier a ser aprovada na Câmara, a PEC não vai impedir a criação
de novos partidos, mas dificultar a consolidação deles.
“Com fraco desempenho eleitoral não terão acesso aos recursos do Fundo
Partidário e ao horário gratuito de propaganda eleitoral”, diz Martins Junior.
“Essa medida tende a ser benéfica para os governos, pois vai diminuir os
custos para compor uma coalizão governamental, e para os eleitores, uma
vez que as distinções entre os partidos tendem a se tornar mais nítidas.”
A maior parte do dinheiro do fundo (95%), que é alimentado com recursos
da União, é dividido de acordo com a representatividade da legenda na
Câmara. No ano passado, por exemplo, o PT recebeu a maior fatia
(R$ 98 milhões), pois foi o partido que mais elegeu deputados na disputa
de 2014. Os outros 5% são divididos igualmente entre todas as legendas
com registro. Assim, mesmo sem eleger parlamentares, o Partido da Mulher
Brasileira (PMB) e o Partido Novo receberam R$ 1 milhão cada em 2016.
Outro fator relacionado ao grande número de pedidos para criar partidos é
]o aumento do valor do fundo. No mesmo ano em que o Supremo Tribunal
Federal (STF) proibiu doações empresariais a campanhas, os repasses para
financiar as legendas cresceram 138%. Em 2015, o valor chegou a
R$ 867 milhões. No ano anterior, haviam sido repassados R$ 308 milhões.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.