O ASSASSINATO DO GOGÓ DAS SETE
“Aqui só se fala a verdade. Somente a verdade. Doa a quem doer.” Esse era o bordão do repórter policial Mário Eugênio Rafael de Oliveira. O Gogó das Sete - era assim que era conhecido o Mário Eugênio, pois ele tinha um programa de rádio todas as manhãs na antiga Rádio Planalto.
Eu, mesmo sendo criança, era fã do Gogó das Sete. Não tinha nem como não ser. De 1982 à 1983 eu estudava numa escola distante de minha casa. E meu Pai pagava a Kombi do Tio João para me levar à escola e trazer para casa todos os dias de aula. E toda manhã o Tio João e Eu, ouvíamos o programa Gogó das Sete - era uma audiência quase religiosa. O Gogó das Sete era um programa policial e tinha 'só bagaceira' - notícias policiais pesadas. Talvez não fosse um programa recomendado para a minha faixa etária, mas o Tio João não estava nem aí para isso e eu muito menos - na verdade eu gostava mais de ouvir o programa do que estar indo para a escola.
Mario Eugênio era ousado e destemido, ele teve sua carreira interrompida às 23h55 do dia 11 de novembro de 1984, quando encerrava mais um dia de trabalho. Conhecido como Marão, o jovem mineiro de 31 anos, nascido em Matozinhos, foi assassinado depois de ter gravado o programa Gogó das Sete, que ia ao ar diariamente, às 7h, na Rádio Planalto. Ao sair do prédio da emissora, no Setor de Rádio e TV Sul, seguiu para o estacionamento, onde foi executado com tiros na cabeça. A foto do corpo estendido, ao lado do carro, foi publicada pelos jornais da cidade.
TRECHO DA REPORTAGEM DO CORREIO BRAZILIENSEMataram Mário Eugênio
Uma facada e três tiros de escopeta, pelas costas, calaram o repórter do CORREIO e da RÁDIO PLANALTO
(Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 12 de novembro de 1984 do Correio.)
O repórter Mario Eugênio Rafael de Oliveira foi assassinado pouco antes da meia-noite de ontem com uma facada e três tiros de escopeta calibre 1, na cabeça, em frente ao prédio da Rádio Planalto, por matadores profissionais que teriam fugido num Fusca branco. De 31 anos de idade, Mario Eugênio vinha denunciando, ultimamente, arbitrariedades policiais e crimes do ;Esquadrão da Morte;, tendo recebido várias ameaças de morte.
Mário Eugênio, o famoso Gogó das Sete da Rádio Planalto, era Editor de Polícia do CORREIO BRAZILIENSE e notabilizou-se por apurar casos difíceis. Ele trabalhou ontem à tarde na reportagem do CORREIO e à noite participou da edição da página policial do jornal, de onde saiu às 11 horas. Mário Eugênio seguiu então para a Rádio, onde gravou o seu programa, que foi ao ar na manhã de hoje. Pouco antes da meia-noite. Mário desceu do quinto andar da rádio ao térreo onde se encontrava o seu monza branco BB-7777 e foi fulminado por trás pelo desconhecido, recebendo inicialmente uma facada profunda na nuca e em seguida, três tiros de grosso calibre na cabeça.
A única testemunha do acontecimento é o operador de rádio, Francisco Resente, que gravou o programa com o próprio Mário Eugênio. Chiquinho, como é conhecido, saiu do prédio momentos antes do acontecimento e ainda escutou os tiros (segundo conta, foram três). De longa distância, já próximo ao prédio da TV Brasília, o operador pôde ver um homem com chapéu escuro, vestindo um casaco também escuro, correndo com ;uma arma comprida; na mão. Chiquinho contou que perdeu o assassino de vista por alguns segundos e, pouco depois, avistou um Fusca branco afastando-se rapidamente do Setor de Rádio e Televisão em direção ao Venâncio 2.000.
O corpo de Mário Eugênio ficou estendido no chão, ao lado de seu carro, e pouco depois cerca de dez carros de polícia já estavam no local, alertados pela Rádio Planalto. Os primeiros trabalhos da polícia, feitos na madrugada de hoje, indicavam que que o crime foi praticado ;por profissional; ou ;profissionais;.
Dezenas de policiais amigos de Mário Eugênio compareceram ao local e comentaram que o assassino deve ter estudado detalhadamente os hábitos do repórter. O presidente da Associação dos Agentes de Polícia, o conhecido policial Kojak, era um dos maiores amigos do repórter e contou, em frente à Rádio, que constantemente vinha prevenindo-o para se proteger. A preocupação maior dos amigos de Mário era que ele andava desarmado desde junho passado, quando o secretário de Segurança Pública, coronel Lauro Rieth, mandou apreender a sua arma de calibre 38, alegando que o revólver era de calibre privativo das Forças Armadas. Apesar de Mário Eugênio estar protegido por porte de arma concedido pela própria Polícia Federal, seu revólver nunca foi devolvido. Constantes protelações burocráticas acabaram encaminhando a arma para o âmbito da 11; Região Militar. Nas últimas semanas, Mário Eugênio vinha adotando providências judiciais para reaver seu revólver, inutilmente.
(segue a matéria - fonte Correio Braziliense)
O sepultamento de Mário Eugênio gerou uma comoção na Capital Federal.
AMEAÇAS DE MORTE AO ENTÃO MAJOR RAJÃO
Digo com todas as letras que o meu Pai não foi assassinado em função da nossa Fé em Deus e em decorrência dos desdobramentos do assassinato de Mário Eugênio.
A morte de Mário Eugênio e a sua apuração eram noticiadas quase que diariamente, uma espécie de novela.
Depois foi descoberto que houve a participação de militares de diversas forças, policiais e até o possível envolvimento do então Secretário de Segurança Pública.
Por mais que quisessem calar o meu Pai, eles sabiam que a repercussão seria muito pior - e por isso, partiram para a intimidação.
Meu Pai por diversas vezes recebia ameaças. Colegas e amigos o orientavam a estar vigilante em sua rotina diária.
A pressão sob o meu Pai era grande. Os recados vieram de várias formas. Desde o arrombamento de nossa casa até o monitoramento e a intimidação quando íamos e voltávamos da escola.
Mas a estratégia não era apenas ameaças veladas. O jogo foi pesado e foi explícito - sob a penumbra da legalidade e do 'Regulamento'. Foi quando prenderam o então Major Rajão à primeira vez.
(continua no próximo post - TODA SEGUNDA-FEIRA E SEXTA-FEIRA SERÃO PUBLICADOS NOVOS POSTS)
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"E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará". JOÃO 8:32