O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) negou nesta segunda-feira conhecer Alberto Youssef ou manter "qualquer relacionamento pessoal ou político" com o doleiro.
Na semana passada, a Polícia Federal encontrou no escritório do doleiro, em São Paulo, oito comprovantes de depósitos para o senador, que somam R$ 50 mil.
Em discurso no plenário do Senado, Collor não negou em nenhum momento ter recebido o dinheiro de Youssef. Apenas disse que não mantém relações com o doleiro ou com Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras preso pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal – que foi solto após determinação do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal...
A informação sobre os comprovantes de depósito de Yousseff para Collor consta de despacho enviado pelo juiz federal Sérgio Moro, do Paraná, ao ministro do STF. Nele, o magistrado comunica a remessa de todos os autos e material apreendido pela Operação Lava Jato ao Supremo, obedecendo a uma ordem do ministro.
Collor disse que vai fazer consulta à Polícia Federal, ao juiz Sérgio Moro e ao ministro Zavascki para ter acesso aos documentos da operação. O senador disse que quer apurar "como e por quem" foram vazados.
Em quase todo o discurso, Collor fez ataques à imprensa e disse ser vítima de uma campanha "difamatória" da mídia que não se "conforma" em vê-lo inocente das acusações que resultaram em seu impeachment da Presidência da República, em 1992.
"Se trata de mais uma desmesurada tentativa de criminalização de quem não cometeu a aludida ilegalidade. Mais uma vez - mais uma vez -, julgam de forma atabalhoada e, pior, querem condenar antecipadamente, aplicando de vez o temerário e chamado jornalismo declaratório", afirmou.
No discurso, Collor deu destaque ao trecho do despacho em que o juiz afirma não haver indícios do envolvimento do parlamentar nos crimes descobertos pela operação. "Observo que não há qualquer indicio do referido parlamentar nos crimes que já foram objetos aludidos das 8 ações penais propostas", afirmou Collor.
Entre os citados pela Lava Jato, Collor admitiu manter relações apenas com o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, que foi ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República em seu governo. "Mantenho com ele e a família relação há mais de 30 anos de amizade e de respeito. É isso o que eu tenho a dizer, por enquanto", afirmou.
Agentes da Polícia Federal encontraram indícios da atuação do empresário na aprovação recente de medidas provisórias e projetos de lei no Congresso. Os investigadores buscam provas da relação do ex-ministro com parlamentares em um lobby considerado "decisivo" para a aprovação de projetos na área de petróleo e energia elétrica.
Ao atacar diretamente a revista Veja, que publicou matéria vinculando o senador aos réus da Operação Lava Jato, Collor disse que os jornalistas "estão loucos", mas vão "levar uma tunda e se arrepender pelo resto da vida".
DENÚNCIAS
Segundo o despacho do juiz ao ministro Zavascki, os depósitos para Collor encontrados no escritório de Youssef, todos em dinheiro vivo, foram feitos nos dias 2 e 3 de maio do ano passado.
O juiz frisa no despacho que não investigou os depósitos a Collor nas oito ações penais que foram abertas com a Lava Jato: "Observo que não há qualquer indício de envolvimento do referido parlamentar nos crimes que já foram objeto das aludidas oito ações penais propostas".
Moro diz também que desconhecia a eventual relação de Collor com o doleiro e que os comprovantes de depósitos foram achados por acaso.
Zavascki determinou a remessa de todos os processos para o STF para averiguar se o juiz incluiu na apuração parlamentares, que têm foro privilegiado e só podem ser investigados pelo Supremo.
No último mês, Collor foi inocentado pelo Supremo, por falta de provas, das acusações de desvio de dinheiro durante o seu governo. Ele foi o primeiro presidente brasileiro a sofrer impeachment, em 1992, após uma série de suspeitas de corrupção.
O juiz afirma que também não há nas oito ações penais indícios de envolvimento dos deputados federais André Vargas (sem partido-PR), Luiz Argôlo (SDD-BA) e Cândido Vaccareza (PT-SP).
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