A derrota da hiperinflação reordenou a economia brasileira e foi o pontapé inicial de uma nova fase de prosperidade. Duas décadas depois, no entanto, esse avanço corre riscos
Em 1994, a seleção brasileira entrou em campo, na Copa dos Estados Unidos, sob o estigma de nunca ter vencido um título mundial desde 1970. No dia 17 de julho, com a vitória suada sobre a Itália, nos pênaltis, o time provou que era possível conquistar a taça novamente, mesmo sem ter Pelé vestindo a camisa 10 — afinal, todas as outras conquistas haviam sido obtidas com a ajuda decisiva do melhor jogador de todos os tempos. Mas as atenções dos brasileiros não estavam, na época, concentradas apenas nos gols de Romário e Bebeto. No dia 1º de julho de 1994, entrou em circulação o real, a nova moeda brasileira. Para o futuro do país, havia então um estigma extremamente mais importante a ser superado. O desafio era derrotar, de uma vez por todas, a hiperinflação, o maior mal pelo qual passou a economia brasileira em sua história.
Os prognósticos de sucesso do Plano Real, que completa agora vinte anos, não eram dos melhores. Desde 1986, quando foi lançado o Cruzado, cinco planos para domar o dragão inflacionário foram testados, e todos fracassaram. Os brasileiros estavam cansados dos transtornos causados por medidas como congelamento de salários, tabelamento de preços, confisco de poupança. Por isso o time de políticos e economistas que concebeu e executou o Real precisou saber tirar lições decisivas dos erros cometidos nos planos anteriores.
O Real vingou e prosperou. A geração de brasileiros que sai hoje das universidades não tem a menor ideia do que é viver em um país onde os preços nos supermercados eram remarcados duas ou três vezes no mesmo dia, e os salários perdiam metade de seu poder de compra em um único mês. O plano, porém, segue incompleto e, além disso, sofre ameaças decorrentes de equívocos cometidos, nos últimos anos, pela política econômica. Essas ameaças podem ser resumidas em três pontos: inflação acima da meta, truques nas finanças públicas e baixa produtividade.
FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/as-ameacas-ao-real-em-seu-vigesimo-aniversario
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