Alianças partidárias são feitas em democracias modernas no mundo todo para ganhar eleições e, mais do que isso, para poder governar com maioria parlamentar. No Brasil, também sempre foi assim, mas a forma escrachada como está acontecendo este ano é outra coisa: uma completa esculhambação, um verdadeiro deboche com os eleitores, a demonstrar à exaustão a falência do nosso sistema político.
Para Eduardo Paes, prefeito do Rio que já andou por vários partidos e está no PMDB, contrariado pelas alianças feitas por seu partido na eleição estadual, trata-se de um "bacanal". Outro carioca, o líder verde Alfredo Sirkis, aliado de Marina Silva na Rede Sustentabilidade, desistiu de se candidatar nas eleições deste ano diante do que chamou de "suruba" nas alianças.
Não se trata de um fenômeno apenas carioca: a orgia partidária a que estamos assistindo nestes dias de Copa do Mundo, em que se definem as alianças para outubro, começa nas campanhas presidenciais e espalha-se por todos os Estados numa disputa insana em que as moedas de troca são o tempo de televisão e um cantinho no palanque.
Com um sistema partidário em que já desfilam mais de 30 siglas só poderia mesmo dar nisso. Depois que o antes renegado Paulo Maluf virou aliado preferencial do PT, chegamos a pensar que nada mais seria capaz de espantar os eleitores. Pois agora, estes partidos todos, que se nivelaram pelo rodapé, a cada dia se superam.
Só um exemplo tragicômico: o presidenciável Eduardo Campos, do PSB, que se apresentou na campanha como o arauto da "nova política", fechou negócio com o PT no Rio e com o PSDB em São Paulo, justamente os dois principais partidos adversários na disputa pela Presidência da República.
Mesmo quem, como eu, vive de acompanhar e comentar a cena política fica completamente perdido com o que está acontecendo. Ao voltar das duas semanas em que fiquei fora do ar e longe do noticiário, após dar uma rápida olhada nos jornais, entendi porque um terço do eleitorado ainda não tem candidato ou já decidiu votar nulo ou em branco. O voto em ninguém, a três meses da eleição, está crescendo em vez de diminuir ao contrário do que aconteceu nas campanhas anteriores.
Da forma sem vergonha como as coisas estão acontecendo nas últimas negociações para a formação das alianças federais e estaduais, se o presidente eleito, seja quem for, não liderar o projeto de uma completa reforma política-eleitoral-partidária, logo nos seus primeiros meses de governo, nós vamos acabar desmoralizando a própria democracia.
A reforma política deveria ser o tema central em todos os debates, no pouco tempo que nos resta de campanha após a Copa no Brasil, mas quem se habilita a empunhar esta bandeira, se do jeito que está eles se elegem e reelegem, dando uma banana para os eleitores, como os vereadores de São Paulo, que vetaram o feriado na cidade na última segunda-feira e depois não foram trabalhar? Virou zona.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.