Sérgio Xavier
Luiz Felipe Scolari afaga o capitão Thiago Silva ao final da partida contra o Chile no Mineirão (Ricardo Corrêa)
Franz Beckenbauer escreveu antes de a Copa ter início e repetiu a sentença na véspera da partida contra o Chile: o Brasil era favorito pelo fator local, mas a seleção verde-amarela apresentava um probleminha: uma equipe jovem demais, a começar pelo craque de apenas 22 anos. O kaiser alemão, campeão mundial como jogador e treinador, acha que, para levantar canecos, é fundamental ter um líder do time mais rodado.
Talvez seja despeito, ou mesmo um equívoco de Beckenbauer. O fato é que o sofrido jogo de oitavas de final em Belo Horizonte mostrou um Brasil pra lá de nervoso. Quando se olha a espinha dorsal da equipe, formada por Thiago Silva, David Luiz e Neymar, não há como não pensar na questão levantada pelo alemão. Thiago Silva quase foi às lágrimas na entrevista anterior ao jogo. David Luiz é emoção sempre. Neymar, quando acabou o jogo, desabou em um choro convulsivo à beira do gramado. Isso sem falar em Júlio César, o destaque da equipe. Ele tinha os olhos empapados de lágrimas, não depois da vitória, mas antes da cobrança dos pênaltis.
O Brasil não é Coca-Cola, mas é emoção para valer. Está na cara que o abismo que separou a primeira da segunda etapa brasileira tem algo a ver com nervos incontroláveis. No período inicial, partidaço. O Brasil amarrou o Chile com uma corrente e engoliu a chave do cadeado. Marcação em cima, velocidade, defesa ajustada. Neymar tomou uma bordoada na coxa no início do primeiro tempo e, mesmo assim, foi brilhante. No intervalo, a musculatura esfriou, e Neymar precisou escolher quando iria tentar uma arrancada. Doía demais. Até aí, coisas da vida e dos gramados. O problema é que o time entrou em parafuso ao ver seu principal craque limitado. O colapso do segundo tempo foi, basicamente, emocional. Veio a prorrogação e, mais tarde, a disputa por pênaltis. O Brasil passou para as quartas, mas o jogo de Belo Horizonte deixou essa péssima impressão levantada por Beckenbauer. A juventude e o descontrole emocional da equipe assustam. Nem se trata de problema técnico, tático. Na bola, a garotada de Felipão mostrou evolução. Se desse para terminar a partida de Belo Horizonte aos
45 do primeiro tempo, todos estariam mais aliviados. Só que, nesta Copa, o Brasil não conseguiu bom jogo de noventa minutos. O segundo tempo contra o bagunçado time de Camarões também foi interessante, só que a etapa inicial havia sido um ataque de horrores.
Grandes times e seleções mostram poucas variações de uma etapa para a outra. Conseguem jogar por mais tempo com a mesma intensidade e estabilidade. O Brasil precisa amadurecer, e tem de ser na marra. Nosso time adolescente tem mais duas semanas e três jogos para virar adulto.
FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/na-copa-em-casa-um-brasil-adolescente
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