Governo planeja construir setor habitacional entre São Sebastião e Santa Maria, local com muita mata nativa. Especialistas mostram preocupação. Empresas imobiliárias já têm 80% dos terrenos
Condomínio próximo à área onde será erguido o setor habitacional: novo bairro depende de projeto urbanístico |
Uma região administrativa com prédios de até 15 andares para abrigar 900 mil habitantes, o equivalente a quatro vezes a população do Plano Piloto e a um terço de todo o Distrito Federal. O projeto imobiliário está previsto para uma área do tamanho de 17 mil campos de futebol, à margem da DF-140, entre São Sebastião e Santa Maria. Para sair do papel, faltam alguns acertos entre técnicos do Governo do Distrito Federal e de estudos de impactos ambiental e urbanístico. ...
O Salto Tororó é uma das belezas naturais da região à margem da DF-140: preocupação com o meio ambiente |
A nova cidade provocará um adensamento populacional em uma região tomada por condomínios horizontais irregulares e muita mata nativa. A última malha urbana a ser habitada no DF está situada a 30km da Rodoviária do Plano Piloto. Mais de 300 empresários do ramo imobiliário já demonstraram interesse em erguer um empreendimento no local.
Em discussão desde outubro, técnicos da Secretaria de Habitação, Regularização e Desenvolvimento Urbano (Sedhab) finalizam as diretrizes da região. Até agora, estabeleceram que todas as quadras serão de uso misto, sendo autorizada a construção de prédios residenciais e comerciais. Na área central, serão permitidos edifícios de até 15 pavimentos e, nas demais regiões, de até 12 andares. “Ficou definido que as avenidas poderão ter comércio, serviço e habitação para a dinâmica urbana. É diferente em relação ao Plano Piloto, onde as atividades são setorizadas e os usos dependem do horário do dia”, comentou a diretora de Planejamento Urbano da Sedhab, Moema de Sá.
Em discussão desde outubro, técnicos da Secretaria de Habitação, Regularização e Desenvolvimento Urbano (Sedhab) finalizam as diretrizes da região. Até agora, estabeleceram que todas as quadras serão de uso misto, sendo autorizada a construção de prédios residenciais e comerciais. Na área central, serão permitidos edifícios de até 15 pavimentos e, nas demais regiões, de até 12 andares. “Ficou definido que as avenidas poderão ter comércio, serviço e habitação para a dinâmica urbana. É diferente em relação ao Plano Piloto, onde as atividades são setorizadas e os usos dependem do horário do dia”, comentou a diretora de Planejamento Urbano da Sedhab, Moema de Sá.
Os técnicos da Sedhab também estudam a presença de indústrias, um centro financeiro e áreas de interesse social na região. A criação do novo bairro depende ainda de licença ambiental e de projeto urbanístico. Durante esses meses de estudo, técnicos da secretaria identificaram áreas bastante sensíveis ambientalmente. São espaços significativos com cursos d’água e de preservação permanente. “Estudos de impacto serão feitos para o licenciamento ambiental. Fizemos uma avaliação preliminar de sensibilidade do solo por impacto da ocupação humana, mas o estudo fará um levantamento mais detalhado do que não pode ser edificado”, completou Moema.
A diretora de Planejamento Urbano da Sedhab explica que a intenção é criar um bairro independente de Brasília, para evitar um adensamento ainda maior na área central da cidade. “A ideia é ser autossuficiente para que atenda as demandas da população. Deve ter faculdades, hospitais, entre outros serviços”, finalizou Moema.
Questionamentos
O geógrafo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Aldo Paviani questiona a necessidade da abertura de novos núcleos urbanos no DF. Para ele, a verticalização de algumas regiões administrativas, como Sobradinho, Planaltina e Paranoá, seria suficiente para atender à demanda populacional do território. “Temos 31 cidades, algumas com capacidade de receber edificações de 8 a 12 andares, tanto para uso residencial quanto para comercial”, afirma.
Paviani ressalta a necessidade de o novo bairro vir acompanhado de equipamentos e infraestrutura, para não inflar o Plano Piloto. “É importante que a cidade ofereça serviços e oportunidades de trabalho para aqueles que vivam nela não terem que se deslocar para Brasília”, avalia.
O impacto ambiental também é ponto sensível do projeto, segundo Paviani. “Há locais em que o solo não é plano e, se a vegetação for retirada, a capacidade de infiltração das águas pluviais diminui. Com isso, pode haver problemas de alagamento nos pontos mais baixos, a exemplo do que acontece hoje no Noroeste”, explica.
A também geógrafa Mônica Veríssimo destaca que o bairro está na contramão do que defendem as novas diretrizes do urbanismo. “A luta é que criemos cidades sustentáveis e a proposta apresentada degrada o cerrado sem aproveitar as oportunidades das cidades já existentes”, explica. Para ela, o projeto “põe fim ao corredor ecológico entre a Reserva Ambiental do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a unidade de conservação do Jardim Botânico”.
Destinação
Em 2009, o governo alterou a destinação da área por meio do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot) e a transformou em urbana. A medida despertou o interesse de grandes empresários do ramo imobiliário, que hoje detêm 80% dos terrenos. A Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap) é dona dos 20% restantes.
Dono do Grupo OK e condenado à prisão por causa de desvio de verbas da obra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) paulistano, o ex-senador Luiz Estevão de Oliveira Neto tem a maior fatia da área a ser construída: 2,6 mil hectares. O restante é dividido entre cerca de 350 proprietários. Do total do terreno, 12,5 mil hectares serão edificáveis.
Os novos empreendimentos serão erguidos ao lado de dois condomínios, o Santa Mônica e o Alphaville, dois dos poucos parcelamentos regularizados da região até o momento.
Há locais em que o solo não é plano e, se a vegetação for retirada, a capacidade de infiltração das águas pluviais diminui. Com isso, pode haver problemas de alagamento”
Aldo Paviani, geógrafo e professor da Universidade de Brasília
Para saber mais
Especulação a partir de 2010
Em 2003, custava R$ 45 mil um lote no Condomínio Reserva Santa Mônica, que fica na região onde será erguida a nova cidade, ainda sem nome. Hoje, o mesmo terreno ultrapassa os R$ 350 mil.
A área onde a nova cidade será erguida começou a ser valorizada de forma acelerada a partir de 2010. A cerca de 20 quilômetros da Ponte JK, transformou-se no novo eixo de crescimento urbano do DF e atraiu olhares dos empresários interessados em construir prédios residenciais e até shoppings.
Dois condomínios de luxo construídos recentemente no local, o Santa Mônica e o Alphaville, tornaram-se um atrativo a mais. O novo bairro também fica em uma área próxima à natureza, a poucos quilômetros da Cachoeira do Tororó.
A diretora de Planejamento Urbano da Sedhab explica que a intenção é criar um bairro independente de Brasília, para evitar um adensamento ainda maior na área central da cidade. “A ideia é ser autossuficiente para que atenda as demandas da população. Deve ter faculdades, hospitais, entre outros serviços”, finalizou Moema.
Questionamentos
O geógrafo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Aldo Paviani questiona a necessidade da abertura de novos núcleos urbanos no DF. Para ele, a verticalização de algumas regiões administrativas, como Sobradinho, Planaltina e Paranoá, seria suficiente para atender à demanda populacional do território. “Temos 31 cidades, algumas com capacidade de receber edificações de 8 a 12 andares, tanto para uso residencial quanto para comercial”, afirma.
Paviani ressalta a necessidade de o novo bairro vir acompanhado de equipamentos e infraestrutura, para não inflar o Plano Piloto. “É importante que a cidade ofereça serviços e oportunidades de trabalho para aqueles que vivam nela não terem que se deslocar para Brasília”, avalia.
O impacto ambiental também é ponto sensível do projeto, segundo Paviani. “Há locais em que o solo não é plano e, se a vegetação for retirada, a capacidade de infiltração das águas pluviais diminui. Com isso, pode haver problemas de alagamento nos pontos mais baixos, a exemplo do que acontece hoje no Noroeste”, explica.
A também geógrafa Mônica Veríssimo destaca que o bairro está na contramão do que defendem as novas diretrizes do urbanismo. “A luta é que criemos cidades sustentáveis e a proposta apresentada degrada o cerrado sem aproveitar as oportunidades das cidades já existentes”, explica. Para ela, o projeto “põe fim ao corredor ecológico entre a Reserva Ambiental do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a unidade de conservação do Jardim Botânico”.
Destinação
Em 2009, o governo alterou a destinação da área por meio do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot) e a transformou em urbana. A medida despertou o interesse de grandes empresários do ramo imobiliário, que hoje detêm 80% dos terrenos. A Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap) é dona dos 20% restantes.
Dono do Grupo OK e condenado à prisão por causa de desvio de verbas da obra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) paulistano, o ex-senador Luiz Estevão de Oliveira Neto tem a maior fatia da área a ser construída: 2,6 mil hectares. O restante é dividido entre cerca de 350 proprietários. Do total do terreno, 12,5 mil hectares serão edificáveis.
Os novos empreendimentos serão erguidos ao lado de dois condomínios, o Santa Mônica e o Alphaville, dois dos poucos parcelamentos regularizados da região até o momento.
Há locais em que o solo não é plano e, se a vegetação for retirada, a capacidade de infiltração das águas pluviais diminui. Com isso, pode haver problemas de alagamento”
Aldo Paviani, geógrafo e professor da Universidade de Brasília
Para saber mais
Especulação a partir de 2010
Em 2003, custava R$ 45 mil um lote no Condomínio Reserva Santa Mônica, que fica na região onde será erguida a nova cidade, ainda sem nome. Hoje, o mesmo terreno ultrapassa os R$ 350 mil.
A área onde a nova cidade será erguida começou a ser valorizada de forma acelerada a partir de 2010. A cerca de 20 quilômetros da Ponte JK, transformou-se no novo eixo de crescimento urbano do DF e atraiu olhares dos empresários interessados em construir prédios residenciais e até shoppings.
Dois condomínios de luxo construídos recentemente no local, o Santa Mônica e o Alphaville, tornaram-se um atrativo a mais. O novo bairro também fica em uma área próxima à natureza, a poucos quilômetros da Cachoeira do Tororó.
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