segunda-feira, 3 de abril de 2017

Eleitores darão preferência a candidatos que apresentem propostas concretas


Os brasileiros estão cada vez mais desiludidos, distantes da política partidária e conservadores


Operação Lava-Jato, impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a pior recessão econômica da história do país criaram uma mistura explosiva perfeita para sacudir a cabeça do eleitor e apavorar quem se apresentar como candidato daqui a pouco mais de um ano. Os brasileiros estão cada vez mais desiludidos, distantes da política partidária e conservadores. Eles querem alguém transparente, não necessariamente vinculado ao mundo político e que resolva concretamente seus problemas do cotidiano, sem ficar alongando-se em discursos ideológicos.

“Eu votaria em um candidato sem experiência porque, talvez, ele possa entrar e mudar alguma coisa. Melhorar hospitais, escolas, tudo está precário. Eu voto se a pessoa tiver propostas para isso. Ainda não parei para olhar propostas, nunca fui ligada em política”, reconheceu a atendente de loja Maria das Graças Silva Oliveira, 19 anos, ensino médio completo,  moradora da Estrutural. Para o cientista político Pablo Cesário, esse pensamento ainda é reflexo das manifestações de junho de 2013, quando as pessoas, especialmente os jovens, como Maria das Graças, foram às ruas pedir, inicialmente, a redução na tarifa de ônibus. O slogan “não são apenas R$ 0,20 virou emblemático.

“As pessoas querem saber o que os governos têm a oferecer, de prático, para melhorar a vida delas. O embate trabalhador versus empregado passou. A batalha agora é a sociedade contra o Estado”, afirmou Pablo. Esse conceito, ele extraiu de uma pesquisa recente, qualitativa, encomendada à Fundação Perseu Abramo pelo PT.  “Um candidato tem que ter ideias e capacidade de colocá-las em prática. Se prometeu, sabia que ia colocar em prática. Não precisa ter experiência, porque os políticos aprenderam a roubar desde cedo. Tem que colocar pessoas voltadas para trabalhar”, afirmou o estofador Círio Carolino da Silva, 58 anos, morador de Taguatinga.


Aversão


“Eu não gosto de política, voto para quem dá certo. Tem que ajudar o pobre. Tem muita coisa largada, principalmente os hospitais. É difícil conseguir uma consulta, remédios”, concordou a costureira Eva Rodrigues da Mota, 50 anos, costureira, moradora da Estrutural. 

Essa insatisfação vai,  inevitavelmente, provocar uma renovação nos quadros políticos do Legislativo. “Renovação de fato. Estamos falando em algo de 50% a 55% nas cadeiras do Congresso Nacional”, aposta o cientista político Pablo Cesário. É verdade que, a cada antevéspera das eleições e com o crescente desgaste dos representantes políticos, sempre se projeta uma renovação alta, mas que não passa dos 40%. “Mas em 2014, por exemplo, você não tinha um desgaste tão grande dos partidos políticos como você tem hoje”, declarou  o professor e consultor de comunicação e marketing digital Marcelo Vitorino.

Vitorino lembra que o movimento feito pelos políticos para se proteger terá, provavelmente, o efeito contrário, provocando mais aversão na população. “Ao propor a lista fechada como uma forma de blindar-se quanto ao mau humor das ruas, eles acabam ameaçando ainda mais o próprio futuro”. O atual momento é ainda pior, por conta da pauta legislativa da reforma previdenciária, trabalhista e da terceirização. “São matérias que retiram direitos das pessoas”, resume.

Curiosamente, nem mesmo esse debate sobre manutenção ou não de direitos consegue mais envolver os partidos políticos. Embora centrais sindicais tenham ido às ruas em manifestações contra a Reforma da Previdência, a maior pressão tem vindo das igrejas evangélicas e da católica. “Você ainda tem uma minoria, barulhenta, ligada às legendas. Eles têm voz, mas são, cada vez mais, minorias” completou o professor de ciência política do Ibmec/MG, Adriano Gianturco.

Esquerda tem de se renovar


Os 13 anos do PT no Planalto deixarão um legado difícil para a legenda. Nem tanto pelo que fizeram no poder, mas pelo que fizeram nos subterrâneos. Apesar do envolvimento de políticos de diversas legendas no esquema do petrolão, como PMDB, PP e PSDB, é nas costas do PT que repousa o fardo de ter organizado o maior esquema de corrupção investigado na história brasileira. “A tendência é que o eleitor pulverize a bancada do PT no Congresso, a exemplo do que aconteceu nas eleições municipais. Quando há uma crise ética em uma coalizão partidária, torna-se desproporcional o efeito sobre quem encabeçava essa coalizão”, reforçou o cientista político Pablo Cesário.

A questão é saber quem ocupará esse espaço deixado pelo PT. O PSol ainda se mantém muito à esquerda, o PCdoB sempre foi satélite dos petistas e o PDT tem Ciro Gomes, mas não é o PDT de Leonel Brizola. Essa desilusão aparece até mesmo em quem já votou no PT. “No momento, não tenho partido. Mas, em toda minha história de voto, votei mais no PT”, afirmou o estudante de pós-graduação em psicologia da UnB, Vinícius Dias Cunha, morador de Vicente Pires.

Para o especialista em marketing digital Marcelo Vitorino, os petistas também tendem a sofrer com o movimento pendular que vem se caracterizando em diversos pontos do mundo, não apenas no Brasil. Isso significa que, pelo natural movimento das coisas, depois de um longo período em que os partidos de esquerda governaram o país, a tendência agora é o sentido inverso. “Não vejo uma candidatura de esquerda viável, competitiva, ao longo dos próximos oito ou dez anos”, acredita Vitorino.

Vinicius mantém a pegada esquerdista, embora tenha afirmado estar sem partido. “O meu candidato ideal seria uma pessoa negra, vinda da periferia, pobre, esse perfil. Uma pessoa que passou por questões pelas quais eu passei e passo. O pessoal que está aí não me representa. Um monte de homem, branco, do olho azul, agropecuarista, rico, homofóbico”, criticou. “ Eu votaria em alguém que não seja político, porque, nas mãos dos que têm experiência, o país está nesse estado”, completou Vinicius.

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2017/04/02/internas_polbraeco,585448/o-que-os-brasileiros-esperavam-dos-candidatos-nas-proximas-eleicoes.shtml

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