Será bom para o Brasil ter o nome de Marina Silva nos terminais de votos de 2014 porque ela representa um grupo e um conjunto de ideias. O movimento feito pelo PSB, que prenuncia a candidatura do governador Eduardo Campos, também é animador. O Brasil precisa da diversidade de propostas e de um profundo debate que faça justiça à dimensão dos desafios do momento.
Há várias escolhas possíveis nas políticas públicas para enfrentar os
problemas que o Brasil vive hoje e quanto mais opções houver em 2014 mais
chances haverá de ocorrer um verdadeiro debate. Se Marina Silva for barrada
porque não cumpriu um número cabalístico de ter 492 mil assinaturas validadas
pelos cartórios, e ter “apenas” 440 mil, o país verá ser cometido um crime
contra a democracia.
Todos sabemos que ela representa um conjunto de ideias que tem seguidores
pelo país todo, que estimula jovens e pessoas maduras, de todas as classes
sociais, e está bem instalada nas pesquisas de intenção de votos. Sua agenda há
muito tempo transbordou a questão ambiental — preservando-a — com propostas e
questões das quais se pode discordar, mas o indiscutível é que Marina Silva não
é candidata de si mesma. Não é uma viagem personalista, é um movimento.
A burocracia dos cartórios negou a validação de outras quase 200 mil
assinaturas, no país do voto eletrônico e num mundo que se mobiliza em redes
virtuais. Curioso como é difícil criar um partido que nasce das ideias. Fácil é
criar legendas de aluguel, em que os mesmos candidatos se apresentam a cada
eleição para eleger alguns poucos, que depois vão barganhar nacos de poder na
coalizão de governo.
Num fim de semana, meses atrás, fomos abordados, eu e um dos meus filhos, por
um jovem que colhia assinaturas em um parque. Ele explicou de forma coerente
algumas ideias da Rede, nos convidou para entender melhor as propostas e
perguntou se estávamos dispostos a assinar a lista de apoios. Explicamos que
éramos jornalistas e isso nos impedia. Ele, educadamente, agradeceu o tempo que
nos tomou e seguiu adiante, conversando com pessoas sobre ideias para o Brasil.
Imagino que centenas de pessoas estavam naquele mesmo momento dedicando seu fim
de semana a trabalhar por aquela causa. Portanto, ela nada tem de artificial.
Nasce do impulso que levou aquele jovem ao trabalho político num fim de semana,
em que poderia estar se divertindo.
Assim, com militância espontânea, nasceu o PT, que depois chegou ao poder e
agora precisa, como diz Lula, voltar a ter orgulho de si mesmo. Hoje, alguns de
seus integrantes parecem raivosos e ressentidos e usam apenas o ataque como
argumento. Em nada lembram as alegres e sedutoras pessoas que nos abordavam nas
ruas oferecendo a venda de estrelas e bandeiras vermelhas para financiar o
partido, décadas atrás. O poder, os escândalos e escolhas fizeram do partido uma
sombra do que ele foi. Mas o processo eleitoral pode reavivar o que houve de
melhor nele, ou então — o que é mais provável —, aprofundar sua opção pelo uso
do aparelho de Estado, capturado, nos últimos anos, para seus propósitos
partidários.
O PSDB — nascido do caudaloso rio de oposição que um dia foi o MDB — trouxe
propostas novas. Foi ele que fez a travessia para o novo Brasil quando, há quase
20 anos, enterrou a hiperinflação, a dívida externa herdada dos militares, as
práticas fiscais nebulosas com as quais a ditadura povoou os armários de
esqueletos contábeis. Na terra arada com a moeda estável, o PT tem feito um
importante projeto de inclusão social. Todos sabemos que, para ser permanente, a
inclusão precisará da revolução educacional sempre adiada no Brasil. Depois, o
PSDB esqueceu o que fez e entrou em crise de identidade. Um PSDB que se orgulhe
do seu legado ajudará a incentivar o debate.
Estamos no momento mais arriscado das mudanças demográficas, em um mundo
globalizado e competitivo, com o planeta já sentindo os efeitos das mudanças
climáticas, com a educação perdendo talentos, e as cidades entrando em colapso.
O Brasil precisa de um projeto. O debate político necessita ter diversidade para
não vermos, como diria Cazuza, “o futuro repetir o passado”. Não será
inteligente, justo, nem democrático barrar do debate, por razões obscuras e
burocráticas, a rede liderada por Marina.
FONTE: http://oglobo.globo.com/economia/miriam/
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