As regiões viram ponto de romaria em época de campanha e são esquecidas logo após o fim da disputa nas urnas
Onde asfalto, rede de esgoto, ônibus e segurança não chegam, sobram santinhos, faixas fincadas no chão, carros de som e visita de políticos. Às vésperas das eleições, bairros pobres se transformam em verdadeiros pontos de romaria de candidatos em busca de votos. O Sol Nascente, apontado como a maior favela do Brasil, localizada a 35km do Palácio do Planalto, em Ceilândia, é exemplo. Lugar onde Marina Silva (PSB), ainda ao lado de Eduardo Campos, deu a largada na campanha. E que deve entrar na agenda de outros presidenciáveis. Por lá, também já passaram os três principais concorrentes ao governo do Distrito Federal, além de aspirantes a deputado e a senador. Entre os eleitores, um misto de desinteresse, desconfiança e até raiva. “Gente que nunca apareceu por aqui, agora vem querer abraçar, botar criança no colo, tirar foto. Eu não acredito. Depois que eles ganham, nunca mais voltam”, reclama Thays Sthefany Silva Sousa. O sentimento da piauiense de 20 anos, que mora e trabalha vendendo verduras no Sol Nascente, repete-se em locais carentes visitados pelo Correio em São Paulo, em Minas Gerais, em Goiás e em Pernambuco. Não importam a região, faixa etária e experiência com as urnas, o sentimento da população é o mesmo: todos são vítimas do oportunismo eleitoral que só aproxima os políticos da pobreza em período de campanha.
Terra fértil para a caça aos votos
Encravada em Ceilândia, a região do Sol Nascente, que tem como extensão o loteamento denominado Pôr do Sol, abriga quase 80 mil pessoas, de acordo com levantamento mais recente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). Desse total, 50 mil votam. Número mais do que suficiente para eleger um deputado distrital. O de melhor performance, nas eleições de 2010, teve 37 mil votos. A matemática atrai dezenas de candidatos ao local, onde a irregularidade da ocupação impulsionada desde os anos 2000 — 79% dos domicílios são próprios, mas não há documentação válida — acompanha a precariedade dos serviços básicos.
Wiliane Carmo dos Santos (foto), 30 anos, quatro filhos e o quinto na barriga, vive em uma das 94% de moradias do Sol Nascente sem rede de esgoto. Para ela, que faz uso de uma fossa no quintal, o serviço melhoraria a saúde dos quatro meninos, que também sofrem com bicho de pé. Funcionária de um lava a jato no Setor de Indústrias Gráficas, Wiliane demonstra total desinteresse pelo processo político e se aborrece com os santinhos de candidatos que sujam a frente do portão da casa humilde, onde mora com o marido, a mãe, um tio e as crianças. “Eles falam, falam e não fazem nada.”
Segundo a vendedora de verduras Thays Sthefany Silva Sousa, 20 anos, além da falta de infraestrutura, um problema crucial que aflige a população é a insegurança. “Depois das oito da noite aqui, a gente não sai mais, só por necessidade mesmo”, conta.
O desemprego no Sol Nascente, em torno de 5,6%, não chega a ser um problema. A proximidade com Brasília, Taguatinga e a própria Ceilândia, onde há oportunidades de trabalho, facilita a ocupação. Mas a taxa de pessoas com carteira assinada, entre as que têm emprego remunerado, é baixa: 54,1%. O rendimento familiar médio é de R$ 1.833,25 — menos de 20% do registrado no Plano Piloto (cerca de R$ 10 mil). (RM)
Alvo de candidatos do DF e de Goiás
Águas Lindas (GO) — Nem os políticos ousam sujar os sapatos onde Luzia Almeida da Silva (foto) mora, no fim de Águas Lindas, com vista para um imenso descampado. Mas cartazes, adesivos e muros pintados são vistos em meio à poeira que acentua o estado de abandono do lugar. Mãe de três meninas, a baiana de Irecê, beneficiária do Bolsa Família, elenca queixas sobre as condições em que vive, ao mesmo tempo em que mostra desprezo em relação ao ato de votar. “Falta asfalto, colégio, creche, posto de saúde, ônibus…”, diz. “Então, não sei pra quê votar. A gente vota e não vê melhora nenhuma. Bom é para eles, mas para a gente…”
Nas áreas centrais do lugar, que se tornou município em 1995 e hoje tem quase 200 mil habitantes, o lixo acumulado chama a atenção. Para 93,4% das moradias, há coleta, mas apenas uma vez por semana. “Dá bicho, rato. Sem falar nesse entulho”, diz Maria Rosemary Pereira, 45 anos, apontando para um terreno vazio em frente ao próprio portão. A dona de casa elege a saúde como problema número um da cidade. “Qualquer coisa que você precisar, tem que ir para Brazlândia.” As queixas ouvidas por políticos no passado são repetidas agora. O candidato à reeleição ao governo Marconi Perillo (PSDB-GO)
já esteve em Águas Lindas nesta campanha. Vanderlan Cardoso (PSB), um dos rivais, começou por lá o corpo a corpo, ainda em julho. No canteiro central das vias, é difícil caminhar, com tantos cartazes, formando um emaranhado de rostos e números.
O burburinho em época eleitoral na cidade, a apenas 50km de Brasília, tem uma peculiaridade: o local de votação dos moradores. Muitos mantêm o título na capital federal, onde trabalham 63% das pessoas ocupadas de Águas Lindas. O município passou, então, a ser alvo de políticos tanto de Goiás quanto do DF. Assédio que tira Orminda Moreira do sério. “Dia de domingo, a gente nem consegue dormir até mais tarde com essas propagandas, gente na porta”, irrita-se. “Colocaram cartazes no meu portão sem nem pedir autorização.” (RM)
Terra fértil para a caça aos votos
Encravada em Ceilândia, a região do Sol Nascente, que tem como extensão o loteamento denominado Pôr do Sol, abriga quase 80 mil pessoas, de acordo com levantamento mais recente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). Desse total, 50 mil votam. Número mais do que suficiente para eleger um deputado distrital. O de melhor performance, nas eleições de 2010, teve 37 mil votos. A matemática atrai dezenas de candidatos ao local, onde a irregularidade da ocupação impulsionada desde os anos 2000 — 79% dos domicílios são próprios, mas não há documentação válida — acompanha a precariedade dos serviços básicos.
Wiliane Carmo dos Santos (foto), 30 anos, quatro filhos e o quinto na barriga, vive em uma das 94% de moradias do Sol Nascente sem rede de esgoto. Para ela, que faz uso de uma fossa no quintal, o serviço melhoraria a saúde dos quatro meninos, que também sofrem com bicho de pé. Funcionária de um lava a jato no Setor de Indústrias Gráficas, Wiliane demonstra total desinteresse pelo processo político e se aborrece com os santinhos de candidatos que sujam a frente do portão da casa humilde, onde mora com o marido, a mãe, um tio e as crianças. “Eles falam, falam e não fazem nada.”
Segundo a vendedora de verduras Thays Sthefany Silva Sousa, 20 anos, além da falta de infraestrutura, um problema crucial que aflige a população é a insegurança. “Depois das oito da noite aqui, a gente não sai mais, só por necessidade mesmo”, conta.
O desemprego no Sol Nascente, em torno de 5,6%, não chega a ser um problema. A proximidade com Brasília, Taguatinga e a própria Ceilândia, onde há oportunidades de trabalho, facilita a ocupação. Mas a taxa de pessoas com carteira assinada, entre as que têm emprego remunerado, é baixa: 54,1%. O rendimento familiar médio é de R$ 1.833,25 — menos de 20% do registrado no Plano Piloto (cerca de R$ 10 mil). (RM)
Alvo de candidatos do DF e de Goiás
Águas Lindas (GO) — Nem os políticos ousam sujar os sapatos onde Luzia Almeida da Silva (foto) mora, no fim de Águas Lindas, com vista para um imenso descampado. Mas cartazes, adesivos e muros pintados são vistos em meio à poeira que acentua o estado de abandono do lugar. Mãe de três meninas, a baiana de Irecê, beneficiária do Bolsa Família, elenca queixas sobre as condições em que vive, ao mesmo tempo em que mostra desprezo em relação ao ato de votar. “Falta asfalto, colégio, creche, posto de saúde, ônibus…”, diz. “Então, não sei pra quê votar. A gente vota e não vê melhora nenhuma. Bom é para eles, mas para a gente…”
Nas áreas centrais do lugar, que se tornou município em 1995 e hoje tem quase 200 mil habitantes, o lixo acumulado chama a atenção. Para 93,4% das moradias, há coleta, mas apenas uma vez por semana. “Dá bicho, rato. Sem falar nesse entulho”, diz Maria Rosemary Pereira, 45 anos, apontando para um terreno vazio em frente ao próprio portão. A dona de casa elege a saúde como problema número um da cidade. “Qualquer coisa que você precisar, tem que ir para Brazlândia.” As queixas ouvidas por políticos no passado são repetidas agora. O candidato à reeleição ao governo Marconi Perillo (PSDB-GO)
já esteve em Águas Lindas nesta campanha. Vanderlan Cardoso (PSB), um dos rivais, começou por lá o corpo a corpo, ainda em julho. No canteiro central das vias, é difícil caminhar, com tantos cartazes, formando um emaranhado de rostos e números.
O burburinho em época eleitoral na cidade, a apenas 50km de Brasília, tem uma peculiaridade: o local de votação dos moradores. Muitos mantêm o título na capital federal, onde trabalham 63% das pessoas ocupadas de Águas Lindas. O município passou, então, a ser alvo de políticos tanto de Goiás quanto do DF. Assédio que tira Orminda Moreira do sério. “Dia de domingo, a gente nem consegue dormir até mais tarde com essas propagandas, gente na porta”, irrita-se. “Colocaram cartazes no meu portão sem nem pedir autorização.” (RM)
FONTE: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2014/08/31/interna_politica,444885/eleitores-de-localidades-pobres-demonstram-desconfiaca-nos-politicos.shtml
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