Reforma ministerial vai sofrer atrasos em consequência das prisões
Dilma terá que escolher ministros que sejam capaz de admininistrar crises e defender o governo ...
O avanço da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, vai interferir na formação da equipe do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Na montagem do novo time, Dilma terá de levar em consideração os desdobramentos das investigações no Congresso, no governo e na área empresarial, sobretudo na órbita da Petrobrás. Os nomes escolhidos deverão ter experiência e capacidade para administrar a crise e proteger o governo da avalanche de denúncias decorrentes das investigações. A primeira preocupação do Palácio do Planalto, nesse cenário, será tentar isolar a presidente da onda de denúncias. Além disso, torna-se imprescindível evitar a nomeação de auxiliares que tenham alguma ligação com os crimes revelados pela operação. Em função desses fatores, uma das prováveis conseqüências das prisões desta sexta-feira será o adiamento da definição sobre os futuros ministros. A exceção é o Ministério da Fazenda. Torna-se cada vez mais urgente o anúncio do substituto de Guido Mantega para evitar maiores estragos na economia, também afetada pelos maus resultados divulgados principalmente depois da eleição presidencial.
Os novos ministros terão, acima de tudo, de barrar as ofensivas da oposição contra o governo de modo geral e, em particular, na direção de Dilma. Reeleita com pouco mais da metade dos votos, a presidente termina o primeiro mandato fragilizada pelos erros de sua administração, pelo acirramento da campanha eleitoral e pela Operação Lava Jato. A disposição de fustigar o Palácio do Planalto com as novas revelações da Lava Jato ficou evidente nas declarações dadas ontem pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato a presidente derrotado por Dilma no segundo turno. “Cada vez é mais clara a percepção de que não havia um ato isolado de um ou dois dirigentes, mas uma estrutura”, disse o tucano.
A postergação do anúncio da nova equipe vai permitir uma avaliação mais precisa sobre a dimensão da crise pelo Palácio do Planalto. Ainda há muitas dúvidas sobre a dimensão da rede de corrupção montada em torno da maior estatal brasileira. Também não se tem noção do real impacto das investigações na base aliada do governo, mas pelo que se divulgou até agora, há uma grande expectativa de que as denúncias atinjam nomes importantes, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão e pelo menos um integrante da cúpula do PT, o tesoureiro João Vaccari Neto. Dentro do partido da presidente há muita apreensão em relação ao papel desempenhado por Vaccari na organização criminosa investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
Um fato novo aumenta o grau de preocupação entre os políticos. Nunca as grandes empreiteiras foram tão afetadas por escândalos de corrupção. Essas empresas são as maiores doadoras para as campanhas eleitorais em todos os níveis. Muitos congressistas têm ligações com elas pelas doações legais que receberam. Algumas dezenas fazem parte das listas de denunciados nas delações da Operação Lava Jato. Essas sólidas relações aumentam a tensão no Legislativo.
O envolvimento dos grupos empresariais na rede criminosa também tem impactos nas ações de governo. As empreiteiras cujos diretores receberam voz de prisão são responsáveis pela maioria das obras em andamento pelo país, muitas delas suspeitas de superfaturamento. O desmantelamento dessa rede pode levar à revisão de contratos, atrasos no fluxo de pagamento e na conclusão dos projetos, tudo isso com impacto no crescimento do país.
Como a presidente só retornará ao Brasil na terça-feira (18), ela ainda poderá ficar alguns dias um pouco distante da crise. Dilma se encontra na Austrália para uma reunião do G-20 e, por mais que seja informada sobre os acontecimentos desta sexta-feira, muitas de suas ações ficam limitadas. As reuniões com os partidos para a escolha dos ministros, por exemplo, só podem acontecer depois que ela voltar.
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