sábado, 9 de agosto de 2014

DF: Vai começar a baixaria


Com troca de acusações entre candidatos, a campanha promete artilharia pesada na TV...

É uma maldição eleitoral que se perpetua a cada quatro anos no Distrito Federal. À medida que a batalha pelo Palácio do Buriti avança, os candidatos começam a sacar armas com todo tipo de munição. Na mira, os adversários mais fortes. Como é de praxe, nessa guerra por votos vale tudo. O batalhão de Agnelo Queiroz (PT), por exemplo, já editou os vídeos nos quais o seu principal oponente, José Roberto Arruda (PR), recebe 50 000 reais em dinheiro vivo no esquema de corrupção que ficou conhecido como mensalão do DEM. A ideia é apresentar o flagrante com narrativa policialesca no horário eleitoral na TV, que começa no dia 18. Imagens famosas de Arruda preso e abatido, com a barba por fazer, também estão no QG dos petistas. Do outro lado do front, os soldados de Arruda preparam sua artilharia. Uma equipe especializada elaborou um dossiê apontando os pontos fracos de Agnelo, entre eles o nebuloso aumento de patrimônio — cerca de 10 milhões de reais — durante os três anos em que atuou como ministro do Esporte no governo Lula. No meio da documentação, constam escrituras dos imóveis adquiridos pelo petista e sua mulher, Ilze Queiroz, numa época em que seu contracheque não chegava a 15 000 reais. Entre os estrategistas de Arruda, o dossiê foi batizado de Chapolin Colorado, uma alusão ao herói mexicano desengonçado de uniforme vermelho.

O próximo enfrentamento direto dos candidatos ocorre na quinta (14), no debate da TV Bandeirantes. Como o atual cenário é propício para uma disputa mais violenta, não há necessidade de bola de cristal na previsão de um encontro com pouca carga ideológica e intenso fogo cruzado. Hoje, Arruda desfruta cômodos 30% nas intenções de voto, porcentual que garante sua participação no segundo turno. Já Agnelo e Rodrigo Rollemberg (PSB) estão tecnicamente empatados em segundo lugar. “A tendência é que a campanha entre numa escalada de baixaria porque os principais candidatos têm telhado de cristal”, analisa Paulo Kramer, cientista político da Universidade de Brasília. Segundo ele, a tradição de embates mais impetuosos na capital se explica basicamente pelo perfil dos candidatos e do eleitor do DF.

Na avaliação da tropa de choque de Arruda, o ideal seria que ele não entrasse num jogo mais pesado, já que está na dianteira e exibe larga vantagem. Eles esperam que a guerra fique brutal entre Rollemberg e Agnelo. O governador já recebeu uma pasta que contém a descrição de todos os pontos fracos do senador que outrora era seu aliado. Com receio de entrar no campo de batalha e na expectativa de que Agnelo caia nas pesquisas, o político ainda bate com delicadeza no petista, principalmente para não criar antipatia no eleitorado que o vê como um candidato elegante. O primeiro a aconselhar que Rollemberg deveria apontar as armas para Agnelo foi o senador Cristovam Buarque (PDT), seu maior apoiador. “Mas com cautela e sabedoria”, frisa Buarque. O conselho não chega à toa. Ele protagonizou uma disputa histórica na campanha de 1998, quando sua derrota para Joaquim Roriz (PSC) foi muito explicada pelo fragmento de um debate. No calor das declarações públicas, o político do PDT disse que o seu oponente não tinha condições de governar o DF, já que não falava corretamente o português. Roriz ficou desestabilizado com o golpe e passou a tremer em frente às câmeras. Muitos eleitores, compadecidos, decidiram votar no mais fraco. “Não me arrependo de nada. Em Brasília, não dá para fazer campanha só apresentando propostas”, diz Buarque. Administrador de crises políticas, Paulo Fona também reforça que programa de governo não é o suficiente para eleger candidato no DF. “O eleitor vibra com a capacidade que os candidatos têm de apontar as falhas dos adversários”, afirma Fona.

Arruda e Agnelo, contudo, têm inimigos extras. O primeiro aguarda uma decisão definitiva da Justiça para saber se é elegível e se poderá tomar posse, caso vença o pleito. Isso provoca uma insegurança muito grande no eleitor. O próprio Arruda já confessou que gasta boa parte do tempo explicando sua situação jurídica no corpo a corpo por votos. Agnelo, por sua vez, é assombrado por uma rejeição de 46%, a mais alta entre todos os governadores que tentam a reeleição no país. “Se esse índice for mantido no fim da primeira semana de propaganda eleitoral na TV, ele não conseguirá vaga no segundo turno”, profetiza Carlos Montenegro, proprietário do Ibope.

Nessa estratégia belicosa, também chamada de tapetão, vale puxar uma memória mais fresca para concluir que nem sempre o candidato agressivo leva a melhor. Nas eleições passadas, 440 128 eleitores brasilienses conduziram ao segundo turno dona Weslian Roriz (PRTB). O motivo da imensa maioria desses votos estava, seguramente, no mais humano dos sentimentos: a compaixão.
Fonte: Por ULLISES CAMPBEL, revista Veja 

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