sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Transporte Público: Uma espera sem qualquer conforto

Em boa parte da capital do País, passageiros precisam esperar os ônibus em paradas sem estrutura

Renan Bortoletto
Especial para o Jornal de Brasília

A rotina diária de quem depende do transporte público para se locomover no Distrito Federal está sujeita à espera de ônibus sob chuva, poeira, lama, risco de acidentes e sinalização precária. Apesar de o governo anunciar investimentos no setor com a renovação da frota, os pontos de ônibus retratam cenas de abandono e insatisfação dos usuários. Dados do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) revelam que mais de 30% das paradas não são cobertas ou dotadas de cabine de proteção. Dos 4.313 pontos de ônibus espalhados pelo DF, 2.965 possuem condições satisfatórias e 827 estão devidamente sinalizados como ponto de parada.
A reportagem do Jornal de Brasília percorreu várias cidades e constatou casos em que moradores construíram, com pedaços de pau e madeira, paradas de ônibus clandestinas. “Venho todos os dias aqui no ponto esperar minha sobrinha voltar da escola. Quando chove, temos que amarrar sacolinhas plásticas nos pés das crianças para que os tênis não fiquem totalmente sujos. Mesmo assim, eles chegam para a aula cheios de poeira”, disse a desempregada Patrícia Soares Silva, 25, que mora na Estrutural.
Improvisado
Um sofá vermelho coberto pela sujeira e alguns pedaços de telha de amianto serviam de abrigo para quem esperava os filhos chegarem da escola. “É um sofrimento ter que vir aqui, e não temos outra escolha. É o ponto de passagem dos ônibus aqui do bairro, e ficamos dependentes já que não temos carro”, disse a autônoma Andréa Rodrigues dos Santos, 28 anos.
Versão Oficial
O DFTrans, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que já existe um processo licitatório em andamento para a contratação de empresa que irá reformar os pontos de ônibus existentes. A previsão é que o GDF invista R$ 19 milhões em melhorias no setor.
 
Nas cidades, cada um se vira como pode
No Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA), usuários do transporte público aguardavam ao lado de um poste sem sinalização. “Faz três anos que pego ônibus aqui e sempre foi desse jeito. Em dia de chuva, a gente fica debaixo de um quiosque montado do outro lado da via por comerciantes. Quando o ônibus aponta lá atrás, corremos para a parada”, conta o assessor administrativo Régis Silva, 31 anos.
O problema também está presente em bairros adjacentes ao Plano Piloto. No Sudoeste, a reportagem flagrou pontos sem sinalização e sem cabines nas quadras 102, 302, 104 e 304. Debaixo de uma árvore, o pedreiro Francisco de Assis, 52, reclamou das condições dos pontos de ônibus. “Faz 30 anos que uso o transporte público e já passei por muitas situações complicadas. Escapar da chuva é quase impossível”, disse.
As placas colocadas pela Secretaria de Transporte apresentam graves sinais de deterioração. Entre os quilômetros nove e 11 da DF-128 – sentido Brasília a Planaltina (GO) – moradores da região amarraram a um poste uma placa desenhada à mão com o símbolo de um ônibus. 
 
Dados necessários
Para o doutor em ciências políticas com ênfase em planejamento urbano e regional da Universidade de Brasília (UnB), Joaquim Aragão, é preciso redesenhar o sistema de transporte coletivo no DF. “É evidente que por décadas o transporte público foi relegado e não participou das pautas de prioridade do governo. O transporte não tinha gestão e o que se viu foram permissões vencidas. A reconstrução é difícil, mas já se vê melhoras. No entanto, as linhas e as paradas de ônibus precisam ser estudadas de forma mais eficiente”, sustentou.
O especialista citou ainda a lei de mobilidade, que exige que os pontos de ônibus tenham informações aos passageiros como horário dos itinerários e preço das passagens.
“O usuário se sente desprestigiado, e isso faz com que muita gente opte pelo transporte individual. Uma má gestão do transporte público resulta no aumento dos carros e similares circulando pela cidade, e consequentemente um inchaço maior nas ruas que provoca  os congestionamentos”, mencionou.
Questionado sobre os desafios do transporte público até a Copa do Mundo, Aragão acredita que o governo já teve um teste e tempo suficiente para ajustar os erros. 
Problema
“A Copa das Confederações foi um teste para o transporte público. Claro que não se compara com a Copa do Mundo, mas no geral o transporte coletivo se saiu bem. De dia funcionou, mas à noite, sem muita gente para dar informação, o problema pode aparecer”, diz.
 
Pense nisso
Há muitos anos o brasiliense que depende de transporte público coletivo no Distrito Federal sofre com ônibus velhos, lotados e que demoram a passar. Como se não bastassem todos esses problemas, a espera pelo ônibus, por muitas vezes, se mostra desconfortável. A renovação da frota, que iniciou no ano passado, porém, pode trazer esperança aos passageiros, um sinal de que as coisas podem mudar, mesmo que a longo prazo. O fato é que, para quem já esperou até agora por um transporte digno, qualquer tempo de espera, mesmo que mínimo, parece uma eternidade.
 
 
 
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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