terça-feira, 24 de setembro de 2013

Denúncias criam pressão dentro do PDT para renúncia de ministro

 
 

Em meio a seguidas denúncias de fraudes em convênios no Ministério do Trabalho, cresce a pressão dentro do PDT para que o ministro Manoel Dias deixe o cargo. Aliados de Dias querem evitar que o desgaste causado por mais um escândalo na única pasta comandada pelo PDT recaia sobre o partido, levando a uma debandada de parlamentares maior do que a prevista. Ainda em avaliação, a renúncia de Dias seria uma maneira de pacificar pedetistas que estão dispostos a usar a brecha para mudar de partido e concorrer à reeleição em 2014. O prazo para o troca-troca partidário acaba em 5 de outubro.
 
Apesar de o ministro ter anunciado um pente-fino na pasta e a suspensão dos convênios em investigação, os aliados de Dias não ficaram satisfeitos: pedem para que ele deixe o cargo imediatamente. “O momento não poderia ser o mais impróprio para que essas notícias viessem a público. Estamos em uma fase de mudanças partidárias”, afirma o deputado federal Vieira da Cunha (PDT-RS). O parlamentar ressaltou que já há movimentação de outras legendas para assediar pedetistas. “Esse ambiente de denúncias e de suspeitas de corrupção é muito ruim, especialmente agora.”
 
Dentro do PDT, a expectativa é que Manoel Dias não suporte a pressão e entregue o cargo. Apesar de os parlamentares terem pressa para se desvincular da imagem de corrupção que habita no Ministério do Trabalho, o titular da pasta não pensa em renunciar – não agora. Antes, ele pretende fazer uma varredura nos contratos de convênios e tentar deixar um legado de transparência. “Sair agora seria assinar um atestado de culpa. O Dias tem 75 anos, uma longa história dentro do partido. Não quer ser só mais um faxinado”, comenta um deputado próximo ao ministro.
 
Se a saída, neste momento, está descartada, há quem aposte que a duração do pedetista no comando da pasta esteja com dias contados. “Ele tem pressa na análise desses contratos. Acho que termina em 30 dias, e, em seguida, renuncia”, aposta um parlamentar. “Será, com certeza, até o fim do ano”, emenda outro congressista do PDT.
 
Caso o ministro entregue o cargo até o fim deste ano, o PDT não pretende apresentar um substituto, aposta o líder da legenda na Câmara, deputado André Figueiredo (CE). "O partido não vai indicar outro nome. Essa é uma decisão que está tomada. Para o PDT, esse ministério traz mais ônus do que bônus."
 
Assédio – Fundador do Solidariedade, o pedetista Paulinho Pereira (SP) já conseguiu atrair pelo menos cinco deputados da legenda para a sua nova agremiação, que ainda depende do aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outros dois parlamentares – Miro Teixeira (RJ) e Reguffe (DF) – devem ir para o Rede Sustentabilidade de Marina Silva, se o partido conseguir ser homologado a tempo pelo TSE. 
 
Entre aqueles que pretendem continuar no PDT, as movimentações estremecem o Planalto: em constante diálogo com o partido, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), trabalha para convencer alguns pedetistas a lhe darem apoio em 2014. Parlamentares da legenda afirmam que Campos tem sido "muito atencioso" nas conversas e que uma possível chapa entre os partidos está em avaliação.   
 
Lupi – Mais do que da vontade de Manoel Dias, a saída do PDT do ministério depende justamente daquele que fora faxinado pela presidente Dilma Rousseff, no fim de 2011, em meio a denúncias de desvio de dinheiro. Apesar de ter saído pela porta dos fundos, Carlos Lupi, que também é presidente nacional da sigla, jamais perdeu sua influência na pasta. Foi ele quem articulou para retirar Brizola Neto do posto e acomodar o então secretário-geral do PDT e seu braço-direito, Manoel Dias. Foi também Lupi que reconduziu o ex-secretário executivo, Paulo Roberto Pinto, ao cargo.
Pinto entregou o cargo depois de ter seu nome envolvido nas investigações da Operação Esopo, que também culminou na saída do secretário de Políticas Públicas de Emprego, Antônio Sérgio Vidigal – ambos filiados ao PDT.    
 
Lupi descarta a possibilidade de Dias renunciar até o fim do ano: “Não há nada nesse sentido. Sobre a questão do futuro [eleições], nós deliberamos em agosto que só íamos tratar de 2014 em 2014”. Lupi reconhece que a legenda está dividida e diz saber das movimentações de parlamentares descontentes para deixar o PDT. Mas não se abala com isso. “Partido político tem esse nome porque é partido. Se não, seria chamado de unidade. Sempre vai ter alguém insatisfeito.”
 
Lupi tenta minimizar o efeito de mais uma investigação no Ministério do Trabalho. “Nós vivemos uma onda de denuncismo. Denúncia é uma coisa, fato é outra. Paulo Pinto, meu amigo há 20 anos, prestou depoimento, e, apesar de não haver provas contra ele, solicitamos que saísse do cargo”, afirmou o presidente do PDT. O ex-ministro diz ainda manter contato permanente com a presidente Dilma e que, no Planalto, a avaliação é a de que o episódio não afeta Dias de forma direta, o que justifica sua permanência no posto.
 
Para Dilma, apesar do ganho que teria na opinião pública, substituir Dias agora significaria enfraquecer uma de suas alianças para 2014. Mesmo com pequena representatividade, o PDT não pode ser descartado em um momento em que o PSB já desembarcou do governo e trabalha justamente para puxar para si o apoio de aliados.
 
Investigação – Ainda em recuperação do escândalo que afastou o ex-ministro e atual presidente do PDT, Carlos Lupi, o Ministério do Trabalho passa por pente-fino da Polícia Federal (PF) desde 9 de setembro, quando foi deflagrada a Operação Esopo. As investigações apuram um esquema similar ao que teria sido aplicado por Lupi no comando da pasta: desvio de dinheiro em convênios com organizações não-governamentais.
 
O esquema atuaria em doze estados. Pelos cálculos preliminares da PF, o prejuízo da ação gira em torno de 400 milhões de reais aos cofres públicos.
 
A operação resultou na prisão de 22 pessoas, além da apreensão de dinheiro, joias e um helicóptero. Foi exonerado o assessor do ministério Anderson Brito. A mulher do ministro, Dalva Dias, também é investigada por irregularidades em convênios abastecidos com dinheiro do ministério em Santa Catarina. A Controladoria-Geral da União (CGU) ainda apura o envolvimento do governador do Ceará, Cid Gomes, no caso.

FONTE: http://www.quidnovi.com.br/noticia/detalhe.asp?c=23469&t=P

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