sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Joaquim Roriz se filia ao partido de Luiz Estevão

O ex-governador ingressa no PRTB, legenda comandada pelo ex-senador em Brasília, e avisa que pretende concorrer ao governo. A deputada distrital Liliane Roriz vai acompanhar o pai e se torna uma opção para cargo majoritário

Luiz Estevão e Roriz apareceram juntos em vários momentos da campanha de 1998
 
Joaquim Roriz flertou como PSD, foi rejeitado pelo DEM e ontem se filiou ao PRTB com o discurso de candidato ao Governo do Distrito Federal. O partido é comandado regionalmente pelo empresário Luiz Estevão, aliado histórico do ex-governador. A deputada distrital Liliane Roriz, atualmente no PSD, também vai migrar com o pai para o PRTB. A 10 dias do fim do prazo para a filiação de candidatos, a definição do futuro político de Roriz deve influenciar no cenário local. A expectativa é de que outros nomes busquem espaço no partido de Estevão. ...

Na noite da última quarta-feira, depois de ter sua filiação negada pela executiva nacional do DEM, Roriz conversou, por telefone, com Estevão e marcou um encontro para as primeiras horas de ontem. Também entrou em contato com a direção nacional do PMN, partido da deputada federal Jaqueline Roriz.

O ex-governador recebeu carta branca de Estevão para entrar na legenda e se candidatar ao Governo do DF. Roriz renunciou ao mandato de senador em 2007 para escapar da cassação, o que se enquadra nos critérios de inegibilidade da Lei da Ficha Limpa. Mas, aconselhado por advogados especialistas em direito eleitoral, ele espera conseguir reverter a situação. “Em 2010, ele era elegível e foi prejudicado por um julgamento casuísta. Hoje, ele continua elegível e vamos buscar nos foros competentes fazer valer esse entendimento”, diz o advogado de Roriz, Eládio Carneiro. Ele argumenta que o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não se debruçaram sobre o argumento de que a Ficha Limpa não deve retroagir para tornar inelegíveis políticos que renunciaram ao mandato antes da vigência da lei.

Antes de chegar ao PRTB, Joaquim Roriz negociou com o PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Mas, como a legenda deve apoiar a presidente Dilma Rousseff nacionalmente, o ex-governador considerou que poderia ficar emparedado no partido. No dia seguinte, ele recebeu um convite do presidente regional do DEM, Alberto Fraga, para entrar na sigla. Aceitou a proposta, mas teve o nome recusado pelo Conselho Consultivo do partido, presidido pelo senador Agripino Maia. A rejeição causou um baque em Roriz, familiares e aliados, e foi rapidamente contornada para evitar desgastes políticos.

“Estou ingressando com muito orgulho no PRTB para ser candidato ao Governo do Distrito Federal, como opositor à atual gestão, que está maltratando a cidade”, disse ontem o ex-governador. “Não tenho condenação, não tenho rabo preso, nem tenho rabo de palha”, acrescentou Roriz, fazendo uma crítica direta ao senador Agripino — o parlamentar já se envolveu em acusações de compra de votos no Rio Grande do Norte, episódio que ficou conhecido como o “escândalo do rabo de palha”. No DEM, Roriz teve oito votos favoráveis à filiação e três contrários, mas Agripino exigiu unanimidade para lançamento de chapa majoritária.

Estevão comanda o PRTB, mas está inelegível por conta da cassação de seu mandato de senador em 2000 e por condenações judiciais. Recorre de pena de 31 anos de prisão por suposta participação nos desvios do fórum trabalhista de São Paulo.

Tempo de televisão

O tempo de televisão de cada candidato ao governo é influenciado pelo tamanho da bancada do partido na Câmara dos Deputados. O PRTB tem hoje apenas um deputado, que pode sair do partido com a criação de novas siglas. Dessa forma, se o PRTB não se coligar com nenhuma outra sigla, ficará com tempo de televisão insuficiente para uma campanha competitiva.
 

Memória

Relação estreita
Joaquim Roriz e Luiz Estevão se conheceram em 1968. O ex-governador tinha à época 32 anos e o empresário, 18. O senador cassado trabalhava na empresa do pai, a Pneus OK. Roriz tinha um grande empreendimento de areia e cascalho, além de ser proprietário de uma frota de caminhões. Os dois faziam negócios constantemente e a relação se estreitou com o passar dos anos.

O ex-governador e o ex-senador nunca foram rivais, mas Luiz Estevão só apoiou oficialmente as eleições de Joaquim Roriz em 1990 e 1998. De 1994 a 1998, durante o governo do então petista Cristovam Buarque, Luiz Estevão foi o mais ferrenho opositor do Palácio do Buriti. Ao atormentar a gestão de Cristovam, ele ganhou ainda mais a simpatia de Joaquim Roriz.

Os dois dividiram as fileiras do PMDB durante muitos anos — o empresário foi eleito senador pelo partido. Em abril deste ano, os políticos foram vistos publicamente juntos depois de muitos anos: Luiz Estevão e a mulher, Cleucy, participaram da missa em homenagem ao aniversário de Liliane e se sentaram próximos ao patriarca da família Roriz.
 
 
Alianças indefinidas

As conversas sobre coligações e alianças ainda não avançaram. Inicialmente, o plano de Luiz Estevão à frente do PRTB era de não se envolver com as disputas majoritárias para investir unicamente na formação de uma bancada nas Câmaras Legislativa e dos Deputados. “Liguei para o Levy (Fidelix, presidente nacional do PRTB), que conversou com ele por telefone e demonstrou satisfação em receber Roriz no partido. Ele entra no PRTB como o político detentor do maior acervo de votos do DF”, comenta o ex-senador. “Qualquer pesquisa feita hoje mostra que Roriz lidera na disputa a qualquer cargo”, acrescenta.

Estevão não quis comentar o fato de o ex-governador estar supostamente inelegível. “Não conheço em profundidade a situação jurídica. Isso vai ser analisado a partir de agora, assim como as possibilidades de alianças e articulações”. Caso não consiga reverter os empecilhos colocados pela Justiça Eleitoral, Roriz deve apoiar a filha Liliane em uma chapa majoritária. No plano nacional, não descarta fazer campanha para nomes como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ou Marina Silva, que tenta criar a Rede Sustentabilidade. A relação do ex-governador com o PSDB ficou desgastada na campanha de 2010, quando o então candidato tucano à Presidência, José Serra, não quis vir ao DF pedir votos ao lado dele.

Depois do episódio que constrangeu a cúpula do DEM, o ex-deputado Alberto Fraga não descarta sair do partido. Ontem, foi à casa de Roriz pedir desculpas e dar explicações. “Lamento profundamente a decisão do DEM, que deixou de ter em seu quadro um grande político, um homem que governou o DF por quatro vezes e que habilitaria o partido a participar da sucessão do governo”, comentou. “Quem perdeu foi o DEM, que acabou cometendo suicídio político no Distrito Federal”. (HM)
 
Por Helena Mader

Fonte: Correio Braziliense

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