sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Erro deixa PM paraplégico

Cabo levou um tiro na medula em treinamento marcado por sucessão de falhas. O acidente aconteceu em 2008 e, desde então, a vítima não recebeu nenhum benefício. Enquanto isso, os responsáveis foram até promovidos.

Um erro brutal cometido durante treinamento da Polícia Militar do Distrito Federal aparece como exemplo da falta de preparo da corporação. As imagens de um vídeo feito em 2008 (veja no site) mostram um integrante do Serviço de Inteligência da PM sendo baleado nas costas durante um exercício de rotina. As cenas são fortes e indicam uma sucessão de erros na prática militar, que deixou paraplégico o cabo Saul Humberto Martins, hoje com 46 anos. O acidente aconteceu em 8 de abril de 2008. Um tenente coordenava um grupo formado por cerca de 30 novatos. Naquele dia, eles deveriam aprimorar as técnicas de revista pessoal. Saul, então com 19 anos de Polícia Militar, foi convocado para ajudar na simulação. ...
 

Ele deveria se passar por um bandido e recebeu a orientação de tentar tomar a arma do soldado que o revistava. Enquanto era examinado pelo colega de farda, Saul ficou sob a mira da pistola de outro militar. Saul aproveitou uma distração do policial e tentou imobilizá-lo. O soldado que dava cobertura atirou. Para o desespero de todos, a arma dele estava carregada, contrariando as regras do curso.

A bala entrou pela omoplata, perfurou a coluna e se alojou na medula de Saul. Após 30 dias de internação no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), ele recebeu a notícia de que não poderia mais andar. E depois de um longo processo na Corregedoria da PM, o instrutor do curso e o responsável pelo disparo foram condenados a nove meses de prisão, mas a pena acabou convertida em serviços à comunidade.

O tenente que chefiava a operação foi acusado de negligência, uma vez que não conferiu o armamento (leia quadro). Saul lembra que, antes de todos entrarem na área reservada ao curso, revistou as armas. “Eu ia ficar na linha de tiro e tive o cuidado de conferir uma por uma”, contou. Porém, o soldado que efetuou o disparo pediu para sair no meio da instrução a fim de comprar um remédio para dor de cabeça. Ao deixar o local, carregou a pistola. Quando voltou, esqueceu de retirar a munição. O oficial que coordenava a ação também não verificou o armamento novamente.

As imagens mostram que, ao atingir o companheiro, o soldado se desespera e diz: “Ai, meu Deus. Foi mal, Saul. Eu saí para comprar remédio”. Saul responde: “Foi mal, não, me leva para o hospital”.

Seguro
Após ficar paraplégico, Saul iniciou uma saga para conseguir alguns benefícios. Por lei, ele tem direito a receber um seguro no valor de R$ 132 mil, mas o GDF e a PM até hoje não pagaram. O caso segue na Justiça. O cabo também deveria ter sido promovido a patentes superiores, mas o comando da corporação ainda não concedeu a graduação. Hoje, ele recebe o salário de cabo, de R$ 5,4 mil. Mas, por estar na reserva, deixa de ganhar os benefícios de quem está na ativa, como auxílio-alimentação e remuneração por serviço voluntário.

O soldado responsável por deixar Saul em uma cadeira de rodas foi promovido duas vezes e, hoje, atua como sargento. O tenente que comandava o treinamento virou capitão, três patentes abaixo do posto de coronel, o mais alto da corporação. “Não vou entrar no mérito se eles merecem ou não, mas eu fiquei inválido por um erro alheio e não obtive nenhum tipo de direito”, reclama Saul.

O Correio enviou para a Comunicação Social da Polícia Militar um e-mail com vários questionamentos a respeito do treinamento da tropa e do caso de Saul, mas o órgão pediu uma semana para reunir as informações e emitir uma nota.

Fonte: Saulo Araújo e Marcelo Ferreira - Correio Braziliense

2 comentários:

  1. Infelizmente os policiais(praças) são vistos como meras mãos de obra para a pmdf; se um não serve, outro servirá; não custa e não custava nada a cúpula da pmdf se reunir e discutir uma forma de apoio ao policial que quando a pmdf precisou ele não mediu esforços para contribuir e ajudou e hoje a pmdf não faz nada por ele.

    ResponderExcluir
  2. Olá Carlos Mackalister, infelizmente as corporações não possuem um sistema efetivo de assistência aos reformados (acidentados e doentes crônicos), aos inativos e pensionistas. Já passou da hora de se criar um Hospital da Segurança Pública, um Centro de Assistência e a Casa do Inativo. Vamos cobrar incessantemente para que estes sonhos possam se tornar realidade. Abraços e até a próxima....

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.