sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A eficácia e os riscos do terrorismo do PT nas eleições


Campanha de Dilma reedita – ainda mais agressiva – linguagem televisiva de desconstrução dos adversários para conter onda pró-Marina Silva

Felipe Frazão e Gabriel Castro
Frame do comercial Dilma na TV - "Pré-sal é dinheiro para educação e saúde"
Frame do comercial Dilma na TV - "Pré-sal é dinheiro para educação e saúde" (Reprodução/VEJA.com)
No auge das eleições de 2002, o PSDB levou à campanha na televisão um depoimento da atriz Regina Duarte até hoje citado – e estudado – por marqueteiros e políticos de todas as matizes. "Estou com medo", dizia a atriz, em referência ao risco de perda da estabilidade econômica conquistada pelo governo Fernando Henrique Cardoso com a possibilidade de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e do Partido dos Trabalhadores. Na época, o mercado financeiro vivia um período de turbulência, uma vez que fazia parte do discurso do PT demonizar a iniciativa privada e abraçar teses como o calote da dívida externa. A peça publicitária causou alvoroço na campanha petista, que reclamou do tom agressivo e do rebaixamento da campanha. Pelas mãos do marqueteiro Duda Mendonça, nasceu o slogan "a esperança venceu o medo". O PT ganhou as eleições de 2002 e as duas seguintes. Após 12 anos, contudo, é o partido que agora adota o "discurso do medo" e, para reeleger Dilma Rousseff — a presidente-candidata que já afirmou que "pode fazer o diabo quando é a hora da eleição" —,  faz dele uma poderosa arma de disseminação de mentiras e boatos.
Em 2006, já instalado no Palácio do Planalto e com um novo marqueteiro, o baiano João Santana – Duda foi arrastado pelo mensalão –, o PT espalhou a suspeita de que o PSDB privatizaria a Petrobras e "venderia" a Caixa Econômica Federal se o tucano Geraldo Alckmin vencesse a disputa contra Lula. Quatro anos depois, os boatos eram que se José Serra (PSDB) derrotasse o então "poste" lançado por Lula, sua ex-ministra Dilma Rousseff, acabaria com o Bolsa Família. Nos dois casos, a avaliação no partido é que a terrorismo funcionou. Com um batalhão de militantes e capilaridade nos rincões do país, boatos como esses têm potencial para se espalhar como rastilho de pólvora. Em 2014, além desses fatores, o PT conta também com um exército virtual nas redes sociais, o que faz da artilharia ainda mais pesada. E, não bastasse, a própria presidente-candidata Dilma Rousseff, com seu padrinho político a tiracolo, têm repetido à exaustão o discurso de terrorismo eleitoral.
Acuado pela possibilidade registrada em pesquisas de que pode deixar o poder depois de três mandatos, o PT lançou uma ofensiva contra a adversária Marina Silva (PSB). Entraram em cena peças publicitárias sugerindo que a eleição de Marina provocaria insegurança institucional – ela foi comparada aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor, este último, ironicamente, um aliado conveniente do próprio PT. Nesta semana, veio a público a mais aterradora delas: com uma trilha sonora digna de filme de terror, o filme mostra personagens-banqueiros, de gel no cabelo e olhar de predador, conspirando ao redor de uma mesa. Na sequência, uma família de negros sentada à mesa para jantar vê a comida sumir do prato, o suco desaparecer da jarra. O tema é a autonomia do Banco Central brasileiro — proposta defendida por Marina Silva que, segundo a propaganda desinformadora do PT, daria aos bancos privados o poder de retirar das pessoas tudo que elas conquistaram nos últimos anos.
Simultaneamente ao bombardeio na TV, Dilma Rousseff ganhou fôlego nas pesquisas e a arrancada de Marina estancou. O PT não perdeu tempo: na quinta-feira, levou ao ar uma nova peça, nos mesmos moldes, na qual afirma que Marina quer “reduzir a prioridade do pré-sal”, o que acarretaria prejuízo de “1,3 trilhão de reais para a Educação e Saúde” – além de ser uma ameaça ao emprego. Nas imagens, engenheiros debatendo sobre a exploração de petróleo se alternam com crianças tendo aula com livros em branco, as mãos na cabeça em sinal de espanto e a mesa escolar vazia.
"Isso é comum nas campanhas, e o PT faz muito bem. Mas a forma que eles estão usando é exagerada. É terrorista", diz o professor Antonio Flávio Testa, da Universidade de Brasília (UnB). Ele afirma que os 11 minutos e 24 segundos na TV da campanha petista – cinco vezes maior do que o de Marina – torna desigual a guerra de informação. Na opinião de Testa, a candidata do PSB deve articular uma reação mais firme aos ataques para evitar a sangria no primeiro turno. No segundo turno, os candidatos terão o mesmo tempo de televisão.

FONTE: VEJA

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