sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Arruda: De saída


Com sucessivas derrotas na Justiça e sem dinheiro para a campanha, Arruda vê sua candidatura desmoronar.

O político: o sonho de mais um governo ficou muito distante (Fotos: Roberto Castro)

Desde o seu primeiro passo para reconquistar o Palácio do Buriti, o candidato José Roberto Arruda (PR) sempre soube que caminhava por uma estrada de solo movediço. A cada revés que sofria nos tribunais — foram cinco em quatro meses —, o político sentia suas pernas mais pesadas. No último dia 9, uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou o recurso no qual ele pedia que a condenação por improbidade administrativa, aplicada pelo Tribunal de Justiça do DF, fosse suspensa. A sentença desfavorável pôs Arruda em uma encruzilhada: ou ele sai e aponta um substituto até segunda (15), prazo máximo para a troca de candidatos, ou segue na disputa alimentado pela remota possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) lhe conceder o direito negado por todas as instâncias inferiores. Com essa coleção de fracassos nas cortes e sem dinheiro para fazer campanha, Arruda vê sua candidatura imobilizada com a areia despejada pelo Poder Judiciário...

Entre os personagens que orbitam a caminhada política de Arruda, quatro reúnem condições para substituir o cabeça da coligação. O mais cotado é o seu atual vice, Jofran Frejat (PR), que, segundo pesquisas realizadas pela chapa, tem o maior potencial para herdar os votos de Arruda. A segunda opção seria Flávia Peres (PR), mulher do ficha-suja, embora o mais provável seja a apresentadora de TV assumir a condição de vice. Gim Argello (PTB) também chegou a ser considerado, porém seu desempenho pífio na corrida por uma vaga no Senado enfraquece seu nome entre os correligionários. Publicamente, Argello desdenha a possibilidade, mas, aos íntimos, desabafa que seria melhor para a sua biografia ser derrotado numa campanha para o governo do que para o Senado. Também sondado, Alberto Fraga (DEM) deixou claro que não deseja pisar nesse chão pouco firme. “É difícil trocar o certo pelo duvidoso”, diz, referindo-se às enormes chances que tem de ser eleito deputado federal. Nesse jogo político, o ex-governador Joaquim Roriz (PRTB) ainda tentou emplacar sua filha Liliane (PRTB), contudo a sua reeleição como deputada distrital também está praticamente garantida. Arriscar uma mudança agora seria bem perigoso.

Apesar de todo esse rebuliço em torno da iminente desistência de Arruda, seus principais aliados afirmam que caberá só a ele a decisão final sobre quem poderá substituí-lo. Com 37% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha, o candidato certamente se valerá desse capital eleitoral para pôr suas cartas na mesa, apesar de ele próprio já estar quase fora do baralho. Na TV, Arruda prega que manterá a sua candidatura até o fim, embora não explique o que isso realmente significa. Interlocutores sustentam a tese de que o político, ao jogar a toalha, declarando-se vítima de um golpe, convocará seus eleitores a votar em quem ele indicar, como se estivessem votando nele. Partindo dessa premissa, o discurso de Arruda sobre continuar na estrada até o fim faz todo o sentido. Tal desejo também combina perfeitamente com um fato já consolidado: sua foto estará nas urnas do DF. E isso certamente será usado a seu favor na nova fase da campanha. Segundo o TSE, tecnicamente, é impossível substituir a imagem dele nas 5 000 urnas que serão usadas aqui em 5 de outubro.

Outras evidências de que o candidato do PR está de saída surgem em ações de bastidores. Ele cancelou boa parte da agenda de campanha para o fim de semana e entrou numa sequência de reuniões com políticos e advogados desde a decisão do STJ. Soma-se a esse inferno astral o fato de as doações financeiras terem minguado à medida que sua permanência na disputa foi mergulhando em dúvidas. Embora tenha declarado que faria uma campanha farta (gastaria até 22 milhões de reais), a última prestação de contas revela que o seu comitê arrecadou 3,4 milhões de reais e consumiu 3,6 milhões. Tal escassez de recursos já compromete até a gravação do seu programa eleitoral para a TV. Pressionado por todas essas questões, só resta a Arruda passar o bastão nos próximos dias. Como é praxe na turbulenta carreira política do candidato, já se espera dele uma despedida comovente, lavada e enxaguada com lágrimas. 


Debate em alta temperatura
 
O encontro de postulantes ao Buriti é marcado pela ausência de Arruda e por polêmicas em temas diversos


Candidatos posicionados: questões espinhosas 

A monotonia passou longe do debate realizado por VEJA e VEJA Brasília no último dia 8. Isso antes e durante o evento, que reuniu quatro candidatos ao governo do Distrito Federal. A menos de cinco horas do início, José Roberto Arruda rompeu acordo prévio e desistiu de participar. A ausência do candidato do PR, porém, não esmoreceu o encontro, marcado por perguntas francas e temas polêmicos. Confrontado sobre sua entrada sem concurso em cargo público, Rodrigo Rollemberg (PSB) reconheceu que a indicação do pai, o ex-deputado Armando Leite Rollemberg, pesou na contratação. “Mas comecei numa função baixa e trabalhei bastante”, justificou. O candidato Agnelo Queiroz (PT) esquivou-se de outras perguntas espinhosas. Ele disse não ter dado aval à agência de publicidade Agnelo Pacheco, que trabalha para o GDF, para contratar outra empresa a fim de criar perfis falsos em redes sociais, com o objetivo de elogiar o seu governo e achincalhar adversários. “Não posso responder por atos de terceiros”, defendeu-se. Questionado sobre se poderia conciliar as suas atividades de empresário da construção civil com o cargo de governador, Luiz Pitiman (PSDB) assegurou: “Minha empresa nunca teve contrato com o GDF. Isso mostra que não vou misturar a atividade pública com a privada”. Toninho do PSOL também teve um momento de tensão ao defender o seu programa de governo, que dedica dezessete de suas 29 páginas a questões não relacionadas ao DF, como a luta por independência do povo saarauí, na África. “O PSOL é um partido internacionalista. Isso faz parte da nossa gênese”, afirmou.
Fonte: Por ULLISSES CAMPBELL, revista Veja

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