segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Dilma muda discurso sobre papel da imprensa nas investigações


Ela brinca: ‘serei uma sem-teto’

Presidente disse estranhar incômodo do TSE com uso do Palácio da Alvorada para conceder entrevistas.

A presidente Dilma Rousseff recuou e tentou consertar a declaração de que o papel da imprensa não é investigar e sim divulgar informações, dada na sexta-feira. Agora, Dilma disse agora que o "jornalismo investigativo pode fornecer elementos ou indícios". Ela citou até o caso “Water Gate”, no qual os jornalistas americanos apontaram, com base num informante, os problemas que acabaram afetando o governo de Richard Nixon. Irritada, a petista disse que "fizeram uma confusão" com suas declarações e que ela estava falando na necessidade de se ter um processo formal e legal de investigação onde as provas não sejam comprometidas...

Dilma defendeu, por exemplo, a tipificação de crimes como a corrupção e o do caixa dois. Bem-humorada, a candidata à reeleição ainda defendeu seu direito de usar o Palácio da Alvorada para dar entrevistas, afirmando que, se não puder fazer isso, vai virar uma presidente "sem-teto".

— Fizeram uma confusão danada com a minha declaração. Agora, o jornalismo investigativo pode até fornecer elementos. Vamos lembrar de um caso clássico: o Water Gate, que forneceu elementos. Agora, quem fez a prova foi a investigação oficial. Se ela não fizer a prova, você não consegue condenar ninguém. Assim é o processo. O que temos de obter cada vez mais é maior rapidez da investigação e que seja muito mais claramente tipificados os crimes. Vou dar um exemplo: o caixa dois não está no Código. O processo de combate à impunidade requer tipificar e rapidez nos julgamentos — disse Dilma, acrescentando:

— Estávamos discutindo impunidade. O que é grave no Brasil? Se você investigar e detectar corrupção, para você não deixar as coisas impunes, você tem de propor uma ação penal na qual as provas são apresentadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. E vai para julgamento e, lá, ainda tem direito ao contraditório.

Para Dilma, esses são motivos que dificultam o combate à impunidade no país.

— É essa discussão que estava aqui falando com vocês. A imprensa investiga, investiga para informar e até para fornecer prova, como é o caso do Water Gate. Não é nem prova, o correto é indício. Agora, o que no Brasil estou falando é de aperfeiçoamento institucional e legal, do qual precisamos. Tenho certeza de que a impunidade é elemento essencial da reprodução da corrupção. Na medida em que a pessoa se considera acima de qualquer suspeita, doa a quem doer, atinja quem atingir, a coisa fica complicada.

Para ela, só a investigação é eficaz no combate às práticas ilegais.

— Portanto, o processo de investigar e acabar com a impunidade diz respeito à gente acelerar o processo de investigação e garantir que não se alegue que as provas foram comprometidas por A, B, C ou D. Que se garanta que prova seja consistente. Isso é uma coisa. A impunidade (o combate) se dá no âmbito dos processos judiciais. Quantos julgamentos conhecemos que estão em andamento? — disse ela.

"SEM-TETO"
Dilma ainda foi enfática ao defender seu direito de usar o Palácio da Alvorada para dar entrevistas, lembrando que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula sempre fizeram isso. Ao responder à declaração do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), José Dias Toffoli, de que o Alvorada e símbolos do governo não deveriam ser usados, Dilma considerou "estranho" o posicionamento.

Bem-humorada, a petista disse que não vai mais usar a Biblioteca do Alvorada e pediu que os cinegrafistas "desfoquem" as imagens. Mas repetiu várias vezes que não ficaria bem ser uma "sem-teto" e ter de dar entrevistas "na rua".

— Respeito muito a posição do presidente do Tribunal. Agora, só quero lembrar que todos os meus antecessores usaram o Palácio. Até porque, caso contrário, serei uma sem-teto, não terei onde dar entrevista. Porque não tenho casa, não pode ser no Palácio da Alvorada, serei sem-teto e irei para a rua dar entrevista. Não tem outro local. Tenho por mim que, todos os presidentes que me antecederam, Fernando Henrique e o meu querido companheiro Lula, usaram o Alvorada, deram entrevista aqui e isso não causou problema para ninguém — disse a candidata à reeleição pelo PT.

Amiga de Toffoli, que foi advogado do PT por anos, a presidente Dilma disse que vai aguardar uma manifestação final do TSE.

— Espero ainda uma posição do Tribunal esclarecendo sobre esse assunto. Agora, que eu serei uma sem-teto, eu serei. Porque, além de dar entrevista, quero lembrar que exerço também minha função presidencial. Por que fico aqui e não lá no Planalto? Porque não posso fazer nada lá no Planalto em dia de semana. O meu dia não é igual a um dia normal: não tenho aqueles dez minutos para a minha campanha e naqueles dez minutos eu trato do problema do governo. Trato sistematicamente do problema do governo. Não parei de fazer isso. É obvio que a decisão vou acatar e o respeito que tenho pelas opiniões. Agora, o que estranho é que todos aqueles que me antecederam usaram este Palácio para dar entrevista.

Apesar de se dizer cansada, presidente afirmou adorar as atividades de rua.

— O brasileiro gosta de agarrar, abraçar e beijar. Eu também. E a selfie é a maior invenção desta campanha. O Rousselfie falam para mim — disse Dilma, brincando que há até a "selfie terceirizada":

— Tem até a selfie terceirizada, que é quando não consegue e dá para o outro fazer.

IDA AOS ESTADOS UNIDOS
A presidente Dilma Rousseff terá uma agenda de campanha nesta segunda-feira, em Minas Gerais, e à noite embarca para Nova York, onde participará da Assembleia Geral da ONU. Dilma disse que será uma viagem muito rápida e que, por isso, não participará de eventos como a Cúpula do Clima ou a reunião dos indigenistas.

— Farei pronunciamento e volto para o Brasil. Será uma viagem chamada bate e volta — disse a presidente.

Nesta segunda-feira, ela ferá caminhada na cidade de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Minas Gerais. Ao falar sobre a viagem, a candidata à reeleição fez questão de dizer que iria, primeiro, a Minas Gerais. Dilma é mineira, e o PSDB do candidato à Presidência Aécio Neves está no governo estadual atualmente.

Fonte: Por CRISTIANE JUNGBLUT, O Globo

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