O perigo é claro e está lá há bastante tempo. O Setor de Inflamáveis, localizado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), deveria abrigar apenas lotes empresariais e distribuidoras de combustíveis, mas, há vários anos e sem qualquer controle por parte do governo, invasões coexistem com a indústria. Além da apropriação indevida de terras, uma questão mais grave surge: a insegurança. E um jogo de empurra ocupa o lugar de ações que possam solucionar o problema.
“Em caso de um sinistro, dependendo das proporções, não tem para onde evacuar, principalmente os caminhões tanque, cheios de combustível, e as pessoas”, alerta o comandante do 3º Grupamento de Bombeiros Militares do SIA, major Gilson Santos de Castro. “Já elaboramos documentos e encaminhamos ao GDF, mas até agora não obtivemos resposta”, aponta.
Tentativas
Existe uma única via de entrada e saída para o Setor de Inflamáveis e essa é uma preocupação do major, que revela tentativas de seus antecessores para criar rotas de fuga. Com a presença de invasores em situação de vulnerabilidade social, o problema se distribui na esfera administrativa.
A área invadida é extensa, acabando perto do Setor Lúcio Costa, no Guará. Há condomínios, casas com piscina e até comércios, enquanto nas áreas adjacentes às distribuidoras de combustível, a predominância é de barracos.
A Secretaria de Ordem Pública e Social (Seops) diz que, perto do Lúcio Costa, derrubadas são comuns. Na “parte baixa”, porém, é preciso cautela, pois as famílias dali não teriam para onde ir e não poderiam simplesmente ser jogadas na rua.
Ameaças e imprudência
Representantes do Plano de Auxílio Mútuo (PAM), que reúne empresários do Setor de Inflamáveis e governo para discutir alternativas de segurança, se encontram mensalmente. Segundo um empresário, as invasões são sempre relatadas.
“Um terreno está com a saída de emergência bloqueada por uma fábrica de tijolos clandestina. Um chefe de operações foi ameaçado com arma, depois que questionou as invasões”, conta. Ele acredita que a situação se tornou complexa pois não foi tratada com a devida atenção. “Há um mundaréu de crianças entre as invasões. Então não dá para chegar e derrubar tudo”.
Na última reunião do PAM, representantes das indústrias comunicaram ao governo o problema da falta de saída mais uma vez. Como resposta, as autoridades presentes teriam se comprometido a fazer um projeto contemplando uma saída de emergência.
Rotas de fuga
As rotas de fuga do Setor de Inflamáveis, de acordo com os bombeiros, passariam por dentro de onde hoje estão as invasões ou por adjacências, porém todas desembocariam ou na EPTG, passando pelo Lúcio Costa, ou na Estrutural. Uma das rotas teria de cruzar a linha férrea e é praticamente descartada, pois envolve muita dificuldade técnica. Enquanto isso, as empresas se preparam como podem para prevenir incidentes, munidas de brigadas de incêndio próprias e de equipamentos de controle de catástrofes. O major Luiz, da Diretoria de Comunicação dos bombeiros, informou que os quartéis fazem simulados para se preparar para situações de emergência e confirmou a existência de um plano estratégico para o Setor de Inflamáveis.
Trabalhadores temem incidentes
Enquanto não se resolve o problema, quem frequenta o Setor de Inflamáveis demonstra preocupação com a segurança. O encarregado de um condomínio com três revendedoras de combustíveis diz que o risco é visível. “Se tiver um incêndio, nem os bombeiros entrarão aqui fácil porque só tem uma saída. Direto vejo crianças correndo na rua em meio aos carros”, relata.
O trabalhador pediu para não se identificado porque teme que os moradores do conjunto de casas irregulares atentem contra a sua vida. “Eles já ameaçaram os funcionários que quiseram denunciar aquela expansão urbana”, afirma.
Situação conhecida
O major Oliveira, gerente de Produtos Perigosos da Defesa Civil, admite preocupação quanto à situação do Setor de Inflamáveis. “Lógico que a proximidade com qualquer local que lide com materiais combustíveis envolve riscos. Não é recomendável que haja ocupação nas redondezas”, diz.
Apesar disso, ele frisa que é difícil tomar alguma ação devido à condição de vulnerabilidade das famílias da invasão mais próxima à zona de alta periculosidade.
Eduardo Brito e Suzano Almeida E Eric Zambon e Ary Filgueira
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.