sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Operação Tiradentes: Perícia confirma fraudes


Documentos apreendidos na Caixa Beneficente da PM e analisados pela Polícia Civil comprovam os desfalques. Um dos desvios se refere a R$ 1,2 milhão da compra de imóveis em Caldas Novas

A Operação Tiradentes identificou na Caixa Beneficente (Cabe) fraudes em compras e contratos, em prejuízo a 22 mil integrantes da Polícia Militar

As primeiras perícias no conjunto de documentos apreendidos no âmbito da Operação Tiradentes confirmam o desvio de verbas da Caixa Beneficente da Polícia Militar do DF (Cabe) por uma quadrilha que agia dentro do Conselho Deliberativo da instituição, prestadora de assistência a mais de 22 mil praças e oficiais associados. Segundo informações divulgadas pela Polícia Civil, uma das irregularidades envolve o desfalque de R$ 1,2 milhão na compra de 40 apartamentos de um empreendimento imobiliário em Caldas Novas (GO). As investigações devem ser concluídas em até 60 dias, segundo o titular da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Fábio Souza...

O esquema que corrompeu os cofres da Cabe foi desbaratado na quarta-feira após inúmeras denúncias de que os gestores da entidade fraudavam compras e contratos — no total, os desvios podem chegar a R$ 30 milhões. O caso segue na Justiça desde outubro do ano passado. O presidente da Cabe, coronel Gilberto Carvalho; o vice, tenente-coronel Alexandre Saud; o diretor executivo, coronel Sebastião Davi Gouveia; e os membros do Conselho Deliberativo Gilberto Mesquita, Henrique Neuto Tavares, Maria Luisa de Melo, Manoel Pedro Conceição e Ronaldo Braz chegaram a ser afastados provisoriamente dos cargos pela 2ª Turma Cível para serem substituídos por dois interventores nomeados pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). Por decisão da 25ª Vara Cível, no entanto, essa ação foi indeferida. 

Gouveia comandou a Polícia Militar do DF em 2012, e Carvalho chefiou o Estado Maior em 2009. Ao todo, 22 suspeitos são investigados pela Polícia Civil, por meio da Deco, e pelo MPDFT, pelo Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). De acordo com o delegado Fábio, em um dos locais vistoriados pelos investigadores na operação, foram encontrados documentos que confirmam que Gilberto foi beneficiado com o desvio de verbas na Cabe. “Os documentos apontam que as prestadoras de serviços repassaram valores para o coronel”, revela Souza. O esquema envolvia policiais da reserva e da ativa da corporação, empresários e funcionários da instituição sem qualquer vínculo com a PM.

Os suspeitos também teriam dado apoio ao desvio de verbas na aquisição de 40 apartamentos do empreendimento imobiliário Mirantes das Pedras, um resort localizado em Caldas Novas, distante cerca de 300km de Brasília. A construtora responsável pela obra foi criada exclusivamente para esse fim. Uma das sócias é mulher do major da PM do DF Vilson Batista Pereira, outro investigado na operação e também ligado ao Cabe. Outro fato que causou estranheza aos policiais e promotores foi o fato de que o patrimônio declarado pela empresa era de apenas R$ 200 mil, sendo que o valor total da obra ultrapassa os R$ 60 milhões.

“Intelecto da ideia”
Do total de R$ 6,5 milhões dirigidos à aquisição das quatro dezenas de unidades imobiliárias, cerca de R$ 1,2 milhão foram repassados para o major Vilson, segundo o delegado Fábio Souza. “Em depoimento, o militar alegou que o montante foi recebido por gratificação ao intelecto da ideia de a instituição investir no empreendimento”, relembrou Souza. 

As investigações também comprovaram a utilização de uma mulher como laranja no esquema. Segundo a polícia, ela foi empregada para dar aparência de legalidade a contratos firmados pela Cabe, como representante de uma das empresas prestadoras de serviço. Porém, ela serviu apenas para fornecer a conta bancária para o desvio de verba.

Por meio de nota, a Polícia Civil do DF reiterou que a operação tem por finalidade a apuração de fraudes da Cabe, “pessoa jurídica de direito privado”. “Dessa forma, a Cabe não está ligada à estrutura da PMDF. Ressalte-se, também, que a PCDF recebeu apoio da PMDF durante a operação e as investigações”, destaca a nota.


Responsabilidade
A Polícia Militar reiterou que a Cabe não pertence à sua estrutura, portanto não se manifesta sobre o caso. “A Cabe é uma pessoa jurídica de direito privado, de caráter beneficente, sem fins lucrativos e que, desde 2012, é administrada por um Conselho Deliberativo próprio, eleito pelos seus associados, conforme seu estatuto social.” A corporação reforçou que colabora com as investigações da Polícia Civil.
Fonte: Correio Braziliense.

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