quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ex-diretor afirma que o PT, PMDB e PP receberam recursos do esquema de corrupção


Na CPI, contadora de doleiro cita políticos

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou ontem à Justiça Federal do Paraná que PT, PMDB e PT receberam dinheiro de esquema de desvios na estatal para bancar campanhas eleitorais em 2010. A informação, segundo apurou o Correio, foi confirmada pelo doleiro Alberto Youssef, que também prestou depoimento ontem. Costa disse que um cartel de empresas ganhava licitações na petroleira e repassava 3% do valor líquido do contrato para Youssef, que entregava o dinheiro aos agentes políticos. O juiz da 13ª Vara, Sérgio Moro, impediu os réus de nominarem os políticos para não forçar o processo a ser remetido para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Do valor, 1% ia para políticos, 1% para o doleiro e 1% para Costa. O ex-diretor afirmou que a Transpetro participou do esquema. Ele mencionou grandes construtoras como participantes, como Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS e Andrade Gutierrez.

Na terça-feira, a Polícia Federal intimou mais de 20 empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato para que prestem, espontaneamente, esclarecimentos sobre eventuais reações com empresas que foram usadas para operar desvios na Petrobras e agir em outros esquemas. Sérgio Moro autorizou o uso em novas apurações do laudo sobre o caixa da empresa Sanko Sider, que vendeu tubulações para a Camargo Corrêa, fornecedora da Petrobras. Para os investigadores, a Sanko foi usada para desvios num esquema comandado por Youssef e por Costa.

Segundo os investigadores, a ideia de intimar as empreiteiras é dar oportunidade para que elas falem espontaneamente. Outras empresas que já procuraram a polícia não foram intimadas. No laudo sobre a Sanko, os peritos afirmam haver “fortes indícios” de que a Camargo Corrêa pagou R$ 38,75 milhões à fornecedora de tubos sem a prestação de serviços correspondente, ao menos no volume contratado.

As informações divulgadas por Youssef e Costa foram confirmadas pela contadora Meire Poza, responsável pela contabilidade de uma das empresas do doleiro. Ontem, ela voltou a colocar nomes de políticos no centro das denúncias da Operação Lava-Jato. Mesmo diante da tentativa de parlamentares da oposição de depreciar a imagem de “mulher-bomba”, acusando-a de integrar o esquema de corrupção e cobrando a investigação dela na CPI mista da Petrobras, Meire detalhou, nas cinco horas em que prestou depoimento, a relação do doleiro com políticos e empresários.

Fundos de pensão

À CPI, Meire Poza contou ter ouvido do doleiro a confissão de que estivera em Brasília em 12 de março deste ano para “fechar o acordo” em relação ao fundo de pensão dos Correios, o Postalis, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). “Ele teria vindo para Brasília na quarta-feira, dia 12, e teria conversado com o senador Renan Calheiros para acertar essa ponta que era o PMDB”, relatou. Segundo Meire, a “parte do PT já estava resolvida”.

Ela afirmou ainda que, após a conversa com Renan, seriam repassados R$ 25 milhões da operação com a Postalis. “Teriam mais R$ 25 milhões que seriam aportados pela Funcef (fundo da Caixa Econômica Federal). Mas sobre esse eu não tenho conhecimento de como foi esse acordo”, disse. Segundo a contadora, o deputado André Vargas (sem partido-PT) cuidava das negociações do PT.

Em nota, a assessoria de Calheiros negou que o senador alagoano tenha se encontrado com Youssef, alegando que “não conhece a pessoa mencionada no noticiário como ‘doleiro’ Alberto Youssef e que só soube da existência do mesmo após as informações publicadas pelos jornais”. No texto, a assessoria disse que Renan “nunca esteve, agendou conversas e nunca ouviu falar de Alberto Youssef e de sua contadora”.

Meire Poza também voltou a mencionar o nome do ex-secretário da Casa Civil do governo do Maranhão João Guilherme Abreu como um dos negociadores dos esquemas com fundos de pensão. A contadora afirmou ter se reunido, no Maranhão, com o doleiro e o assessor da governadora Roseana Sarney (PMDB). No encontro, segundo Meire, fora acertado o pagamento de propina de R$ 6 milhões para fechar o acordo com o governo.

Notas frias

Meire disse que parte dos pagamentos da propina foram feitos em parcelas e que, no dia em que foi preso, Youssef estava no Maranhão, com a penúltima parcela de R$ 1,4 milhão. A última parcela, segundo a contadora, não foi paga. A propina teria sido negociada com o governo para que a empresa UTC/Constran furasse a fila dos precatórios e recebesse, antecipadamente, R$ 120 milhões que o governo do Maranhão lhe devia.

A contadora afirmou ainda ter ouvido de Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades e deputado federal Mário Negromonte (PP-BA), que uma pessoa do governo do Maranhão reclamou ao receber R$ 300 mil, alegando que o valor era inferior ao acordo e que, por isso, teria que consultar a governadora Roseana Sarney para saber se ela aceitaria apenas essa quantia. A reportagem não conseguiu contato com os citados para comentar as denúncias.

A ex-contadora do doleiro confessou ter emitido R$ 7 milhões em notas frias a clientes nas empresas das quais cuidava da prestação de contas. Ela negou a suspeita sobre a empresa dela, Arbor Contábil, ser uma empresa de fachada. Porém, não informou o faturamento da empresa no último ano, o que levou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a pedir a investigação dela como “uma das envolvida no esquema”.

Mensalão

No depoimento, a contadora afirmou ainda ter buscado dinheiro na casa do jornalista Breno Altman, que é ligado ao PT, para pagar a multa de condenação no mensalão de Enivaldo Quadrado, ex-sócio da corretora Bônus Banval. Ela contou ter ido à casa dele três vezes neste ano buscar parcelas de R$ 15 mil. Enivaldo foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter distribuído dinheiro do mensalão no governo Lula. “Ele (Breno Altman) dizia que era o PT que estava pagando a multa do mensalão”, declarou.

Ao Correio, Altman confirmou ter recebido Meire na casa dele “duas vezes”, e “o motivo desse encontro, solicitado por mim, foi obter assessoria contábil para a exportação de serviços, pois realizo — como jornalista e consultor — muitas atividades no exterior”, disse. “As declarações da senhora Meire Poza sobre eventuais pagamentos da multa de Enivaldo Quadrado no processo do mensalão envolvendo meu nome são fantasiosas. Fico curioso para saber quais razões dessas invenções e a que interesses atende”, escreveu, por e-mail. Altman alegou já ter pedido ao seu advogado para analisar o depoimento da contadora para “tomar medidas jurídicas cabíveis”.


FONTE: CORREIOWEB

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