segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Reflexos de uma crise na saúde pública se arrasta

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O caos na saúde pública do Distrito Federal parece não ter fim. Todos os dias, novas irregularidades surgem, piorando o cenário. Desta vez, uma auditoria do Tribunal de Contas do DF (TCDF) confirmou falhas gravíssimas na gestão do governo anterior em 2013, que parecem estar refletindo até hoje. Entre elas, os auditores identificaram que, de todas as despesas realizadas pelo GDF sem cobertura contratual, 98,6% ocorreram na saúde.
Além disso, a grande quantidade de contratos emergenciais sem justificativa e os casos de retenção indevida de pacientes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que já tinham alta médica estão entre as irregularidades que mais comprovam a ineficiência de gestão, afirma o presidente do TCDF, conselheiro Renato Rainha. Segundo ele, ainda é impossível fazer uma comparação entre a situação atual e o ano passado com o que foi revelado em 2013, tendo em vista que a auditoria de 2014 não foi finalizada.
Entretanto, Rainha garante que a crise generalizada nunca aconteceu por carência de recursos, mas por falta de experiência do governo.
“É impossível fiscalizar se o dinheiro público está sendo aplicado ou desviado quando os serviços não têm contrato. Até a qualidade do serviço fica impossibilitada de avaliação. No caso das UTIs, o problema é maior, pois um paciente sadio ocupou a vaga de alguém que poderia estar correndo risco”, completa.
Até setembro de 2013, os pacientes de UTI ficavam, em média, 8,9 dias esperando pela disponibilidade de um leito comum para poder deixar o tratamento intensivo. Com isso, entre abril de dezembro, a pasta desperdiçou 7,2 mil diárias de UTI, ou R$ 1,1 milhão mensais.
Quanto aos contratos emergenciais, Rainha explica que eles só devem existir quando não é possível esperar por uma licitação. “Em 2013, muitos contratos emergenciais foram criados. Porém, a solução só apareceu muito tempo depois, o que significa que daria tempo para esperar uma licitação”, diz.
O TCDF ainda revelou a falta de 2,6 mil leitos comuns em relação ao mínimo recomendado.
A Secretaria de Saúde reconhece que os resultados do relatório correspondem à realidade e informa que está trabalhando para garantir que este quadro seja revertido. Além disso, trabalha com a hipótese de que os indicadores de 2014 sejam ainda piores, uma vez que o segundo semestre foi recheado de turbulências. “A Secretaria de Saúde tomará todas as medidas cabíveis para sanar problemas que já se tornaram crônicos”, informa.
Horas de espera na emergência
Na parede do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), o aviso de greve dos médicos continua pregado, e a emergência, lotada. Ao meio-dia, apenas um clínico-geral prestava atendimento, mesmo a Justiça tendo decretado a ilegalidade do ato e determinado a volta de todo o efetivo. Em outras unidades, o atendimento parecia normalizado. Para os profissionais, a decisão de realocar profissionais das áreas burocráticas pode ajudar, mas não resolverá o problema da saúde.
Após declarada a situação de emergência na capital, o secretário João Batista de Sousa revelou que uma das medidas para combater a crise é trazer de volta ao atendimento os servidores que foram cedidos secretarias ou corporações. Entretanto, a Secretaria de Saúde diz ainda não haver previsão para que o levantamento de funcionários seja concluído. Ou seja, ainda não há como saber quantos estão incluídos nesse remanejamento.
Nunca é demais
Para os médicos, essa pode ser uma boa saída. Os profissionais preferem não se identificar temendo sanções, mas entendem que “pessoal nunca é demais”.
Pelo contrário, “é uma boa medida para sanar parte dos problemas, mas isso não vai resolver a situação caótica que somos obrigados a trabalhar”, disse uma mastologista. Isso porque “não adianta ter vários profissionais se não tem insumos, se faltam materiais básicos, se equipamentos estão estragados”, pondera um clínico geral.
Para eles, nada resolvido
A aposentada Creuza de Lima, 75, e o arquivista Alan Danilo, 31, chegaram ao Hospital Regional da Asa Norte antes das 8h. Com pulseiras amarelas indicando a gravidade da situação, cinco horas depois não haviam sido atendidos.
“Estou com dor nos rins, febre e vomitando”, explicou a moradora de Planaltina. Pela manhã, uma ambulância a levou ao Hran e, mesmo sem conseguir andar direito, não foi prontamente atendida. “A médica me olhou e disse, bem grossa, que não era situação de emergência. Eu estou muito mal”, lamentou.
O arquivista tinha na pele os sinais de que necessitava de atendimento rápido: uma alergia crônica a alimentos que, por anos, tratou com remédios que parecem não mais fazer efeito. “Só tem uma médica trabalhando e chegou muitas emergências do Samu. Disseram que, se conseguir atendimento, será à tarde”, reclamou.
Elevador quebrado
Para Francisca Pereira da Silva, 54 anos, o retorno dos médicos no Hospital de Base não foi tão bom quanto imaginava. Com um tumor no cérebro, teve sua cirurgia cancelada ontem pela segunda vez. “Primeiro, chegou um paciente mais urgente. Agora, não há leitos na UTI e o elevador está com defeito. Os médicos dizem que não tem como operar”, conta o marido José Aldo.
A Secretaria de Saúde confirmou que as cirurgias eletivas foram suspensas devido a um “problema técnico nos dois elevadores que fazem o transporte de pacientes para o centro cirúrgico”, e alegou que todos os pacientes serão reagendados. A pasta negou que a cirurgia tenha ocorrido por falta de UTI.
Já a pensionista Vanda de Oliveira, 58 anos, elogiou o funcionamento da unidade. “Há 11 meses tive um infarto. Quando comecei a sentir um mal-estar, fiquei com medo de ser outro. Corri para o hospital, mas achei que nem seria atendida. Foi tudo muito rápido”, conta.
Com a pulseira amarela, ela fez a ficha de atendimento por volta de 5h30 e, menos de meia hora depois, já fazia o primeiro exame. “Não tive problemas”, resume.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília com o Blog da Cris

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