quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Youssef: para fazer obra para Petrobras, só pagando pedágio



Doleiro disse que não era mentor nem chefe do esquema, somente uma "engrenagem"

Em depoimento na tarde de ontem na sede da Justiça Federal no Paraná, o doleiro Alberto Youssef disse que operava o sistema de propina na Petrobras desde setembro de 2005, através do ex-deputado José Janene. Ele disse que era responsável pela operação financeira do esquema que funcionava através do ex-diretor de abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, e que esse não era o único esquema dentro da companhia.

“Toda empresa que tinha uma obra na Petrobras, tinham que pagar 1% para a área de abastecimento e 1% para a área de serviços”, conta, dizendo que operava as propinas na área de abastecimento e que a área de serviços era operada por João Vaccari. O dinheiro desviado, segundo o doleiro, ia para “agentes políticos”.

Depondo na Justiça Federal do Paraná, Youssef foi orientado a não citar o nome de nenhum político com mandato por conta do foro privilegiado dos mesmos, referindo-se a todos apenas como agentes políticos. Apesar de ainda não ter acordo de delação premiado homologado, Youssef depôs como colaborador após concordância da promotoria, do juiz Sérgio Moro e de sua defesa de que o depoimento já poderia fazer parte do acordo que deverá ser confirmado nos próximos dias.

“Não sou mentor nem chefe desse esquema. Sou apenas uma engrenagem desse assunto que ocorria na Petrobras, tinha gente muito acima disso e acima, inclusive de Paulo Roberto Costa, agentes políticos, disse”.

Segundo o doleiro, em todos os contratos da Petrobras com empreiteiras ele recebia 1% do valor a título de propina. Desse total, 30% ia para Paulo Roberto Costa, 5% ficava com ele a título de comissão pelo serviço prestado e todo o restante era destinado a “agentes políticos”, ligados ao PP, ao PT e ao PMDB.

O doleiro exemplificou o esquema com o caso da Camargo Corrêa na obra da refinaria Abreu e Lima. “A Camargo usou a Sanko Sider como fornecedora de tubulação e fez o repasse através da emissão de notas de serviço. A Sanko realmente presatou o serviço à Camargo, mas o valor pago foi acrescido do valor para que o repasse aos agentes políticos pudesse ser feito”, disse. Segundo o doleiro OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht, Mendes Junior, Andrade Gutierrez e UTC Engenharia, entre outras empresas adotavam a prática. “As empresas tinham muito claro que só conseguiam o contrato se pagassem o pedágio. Caso contrário, havia pressão política e interferência do Paulo Roberto para que elas perdessem o contrato. As empreiteiras, inclusive, loteavam previamente entre si qual pegaria qual obra”, disse, confirmando um cartel entre as empreiteiras.

Youssef deu nome de todos os diretores de empreiteiras com que tratou, geralmente presidentes, vice-presidentes ou diretores de óleo e gás. Ele disse que, enquanto operava o esquema para o PP, João Vaccari fazia o mesmo para o PT e Fernando Soares, para o PMDB.

Questionado pelo próprio advogado se tinha conhecimento de que, alguns meses antes de Costa assumir a diretoria de abastecimento, que foi retirado do cargo por não concordar em participar do esquema, Youssef negou, mas informou que, para que Paulo Roberto Costa assumisse a diretoria de abastecimento, os agentes políticos trancaram a pauta do Congresso durante 90 dias. “O presidente da época, Luiz Inácio Lula da Silva, ficou louco, mas teve que ceder e empossar Costa na diretoria”.

Outros réus no processo que também foram convocados a depor ontem, Esdra de Arantes Ferreira, Leandro Meirelles, Pedro Argese Júnior, utilizaram o direito de permanecerem calados e não responderam a nenhum questionamento.

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, explicou, durante seu depoimento na Justiça Federal do Paraná, na última quarta-feira, que, em média, 3% sobre os valores dos contratos fechados pela Petrobras com grandes empresas eram destinados a partidos políticos. “Dos 3%, 2% eram para atender ao PT, por meio da diretoria de Serviços”.

Ele completa relatando que outras diretorias, como Gás e Energia e Exploração e Produção, que também tinham indicações feitas pelo PT, estavam “incluídas no esquema”. O 1% restante, segundo Costa, era destinado à diretoria de Abastecimento, cargo ocupado por ele, e que tinha indicação política do PP. “Em média, dependendo do contrato fechado pela Petrobras, este percentual podia variar. Deste total, 60% ia para o partido, 20% para despesas (nota fiscal para envio, por exemplo). Entre os outros 20%, 70% ficava para mim  e 30% ia para o Youssef ou, até 2008, para o ex-deputado José Janene”.

Costa ainda reforçou que recebia em espécie, normalmente em casa ou no seu escritório. Estes valores sempre eram entregues por Youssef e, anterioremente, por Janene. O engenheiro mecânico ainda lembrou que a diretoria Internacional da estatal tinha indicação do PMDB.

“Possivelmente já acontecia antes de eu ir para lá (em 2004) porque estas empresas já trabalhavam com a Petrobras há muito tempo. E como mencionei, as indicações de diretorias, sempre foram políticas”, ressaltou ele, durante o depoimento. Paulo Roberto Costa confirmou durante seus depoimentos a existência de um “cartel”´ de grandes empreiteiras que, durante reuniões, decidiam quem iria vencer a disputa de licitação para obras da Petrobras. “As empresas se reuniam e decidiam quem iria vencer determinada licitação para realizar não somente obras da Petrobras, mas outras obras do País todo. Nunca participei destas reuniões, mas sabíamos disso quando era feita a licitação”, ressaltou.

Segundo ele, os pagamentos de propina eram efetuados diretamente por representantes das empresas para os operadores do esquema (Youssef, por exemplo). “Não passava nada pelo Petrobras. Os diretores/presidentes das empresas tinham conhecimento desses pagamentos. Faziam parte do cartel a OAS, Camargo Correa, Odebrecht, Iesa, Mendes Junior, Queiroz Galvão, Toyo Setal, Galvão Engenharia, UTC Constran, Engevix, Andrade Gutierrez”, afirmou o ex-diretor da Estatal.

FONTE: TERRA

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