quinta-feira, 10 de julho de 2014

Eleições: Discurso para convencer 47 milhões de indecisos


Governo e oposição vão usar a derrota do Brasil como argumento na corrida eleitoral. Os petistas ressaltarão que, apesar do fracasso em campo, não houve problemas durante a Copa. Já os rivais destacarão os exorbitantes gastos com o torneio.
 
Aécio Neves, ao lado de Fernando Henrique Cardoso e de integrantes da coordenação de campanha: tucano terá agenda externa hoje no Espírito Santo e na Baixada Fluminense.
Dilma concede entrevista à rede norte-americana CNN: petista voltou a lamentar a derrota do Brasil na Copa.
O socialista Eduardo Campos intensificará, a partir de hoje, as visitas a estados da região nordestina.

Ainda sob o efeito da derrota do Brasil no Mundial, governo e oposição buscam o discurso para atrair 47 milhões de eleitores — um terço do eleitorado, que ainda não vestiu a camisa de um lado ou do outro para as eleições de outubro. Os oposicionistas defendem que o vexame perante a Alemanha apenas coroou um torneio que teve obras superfaturadas, entregues com atraso e resolvida pelo jeitinho brasileiro de decretar feriados nos dias dos jogos para não travar a mobilidade. Para os governistas, a “Copa das copas” foi um sucesso, os aeroportos funcionaram, os pessimistas foram calados e não se pode culpar a presidente Dilma Rousseff (PT) porque não foi ela quem entrou em campo ou escolheu Luiz Felipe Scolari para ser treinador da Seleção Brasileira. ...

“A partir de agora, viveremos a Copa das culpas”, disse Carlos Melo, cientista político e professor do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. “Cada um dos lados vai tentar empurrar para o outro as razões desse fracasso. O eleitor indeciso será bombardeado por uma guerra infinita de versões”, prosseguiu Melo. O especialista lembra que, nas redes sociais, a cada gol alemão, multiplicavam-se cobranças à presidente pela ausência de investimentos em saúde e em educação e a prioridade dada às obras para o Mundial. “Mas não podemos esquecer que São Paulo, governado pelo PSDB, lutou para sediar a abertura dos jogos”, completou.
O cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fábio Wanderley avalia que o povo brasileiro sabe separar bola e voto. “A verdade é que ainda vai correr muita água até as eleições”, afirma. Ele acredita, no entanto, que a derrota pode servir como adubo para o recrudescimento das manifestações de rua que sacudiram o Brasil em junho do ano passado.

O Planalto e a campanha do PT pela reeleição de Dilma Rousseff asseguram que, até o momento, não há qualquer razão para mudanças de planos. A presidente segue disposta a ir ao Maracanã no domingo para entregar a taça ao vencedor do Mundial. Há alguns dias, a decisão causou estresse entre a Secretaria de Comunicação da Presidência e o Ministério do Esporte, pois Aldo Rebelo confirmou a presença de Dilma à Fifa antes de comunicá-la do convite. 
Ontem, a presidente foi entrevistada pela CNN e não escondeu que estava abalada pelo resultado do jogo. “Meus pesadelos nunca foram tão ruins. Como torcedora, claro, estou profundamente sentida porque eu compartilho da mesma tristeza dos outros torcedores. Mas também sei que somos um país com uma característica muito particular. Nós crescemos no desafio da adversidade. Nós somos capazes de superar”, disse a presidente. A entrevista vai ao ar hoje. 
Dilma também reforçou o discurso feito por estrategistas de campanha de que “o Brasil organizou e sediou a que eu acredito ser uma das melhores Copas do Mundo. E muito disso se deve à habilidade dos brasileiros de oferecerem hospitalidade e de dar boas-vindas a torcedores de todas as partes do mundo”, elogiou, mostrando que o discurso de que “a parte do governo foi feita” será usado como combustível eleitoral. Na segunda-feira, a presidente participou de um cara a cara com internautas e chegou a fazer o “tóis”, formando uma letra T com os antebraços, gesto usado por Neymar nos jogos do Brasil.

Corrupção

No campo da oposição, Eduardo Campos (PSB) cancelou a agenda de candidato em Fortaleza por acreditar que os eleitores interpretariam mal alguém pedindo votos em um momento de comoção nacional. “Nossa proposta foi, é, e sempre será, trabalhar a favor do Brasil. Queremos sempre que as coisas deem certo.” Aliados do socialista, no entanto, afirmam que, se o tema da Copa for abordado na campanha, virão à tona os escândalos de corrupção e de superfaturamento nas obras para o Mundial. 
Já o candidato do PSDB, Aécio Neves, que esteve no Mineirão, permaneceu em reuniões internas ao longo da quarta-feira. Mas o Instituto Teotônio Vilela, vinculado ao partido, divulgou uma nota dura. “A vitória alemã representa o triunfo da técnica, da disciplina, do método e do rigor sobre o improviso e o descompromisso. Quantas vezes, ao longo de sete anos, não ouvimos autoridades federais dizendo que o ‘jeito brasileiro’ de fazer as coisas seria um sucesso, como se organização, planejamento e método fossem atributos indesejáveis para uma nação tão criativa quanto a nossa?”, disseram os tucanos.

Pausa nas campanhas

A ressaca da derrota do Brasil também contagiou o dia de campanha da disputa presidencial. Embora a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, tenha concedido pela manhã entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, e falado sobre o jogo entre Brasil e Alemanha, no restante do dia, ela recebeu dois empresários e a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello. Depois, permaneceu no Palácio do Planalto para despachos internos. Os dois principais adversários na disputa pelo Planalto, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), também mantiveram discrição e se fixaram em agendas internas. 

Único candidato que tinha agenda externa prevista, Campos cancelou a visita ao Ceará. Em vez de começar o périplo pelo Nordeste, como programado, o socialista passou o dia no Recife, onde fez gravações para a propaganda eleitoral. A decisão de suspender a agenda no Ceará já estava em estudo antes do jogo, com o argumento de que era melhor fazer um evento maior no estado e incluir mais municípios. Após a derrota brasileira, a avaliação do núcleo da campanha foi a de que era prudente congelar os planos e evitar a tristeza do eleitor com o desastre. A agenda externa do candidato pelo Nordeste retorna hoje, com uma visita ao Maranhão. Na sexta, ele segue para o Rio Grande do Norte. 

O tucano Aécio Neves aproveitou a quarta-feira para fazer uma reunião interna no Rio de Janeiro. A programação de rua volta hoje, no Espírito Santo. Lá, o candidato participa de ato político ao lado do postulante ao governo do estado Paulo Hartung (PMDB) e do vice, César Colnago (PSDB), depois de uma caminhada. No fim da tarde, Aécio visita Queimados (RJ), na Baixada Fluminense, acompanhado de líderes do PMDB. O município é reduto político do petista Lindbergh Farias, que concorrerá ao governo do Rio. 

Propaganda antecipada

Advogados da coligação de Aécio entraram com representação na Justiça Eleitoral contra a presidente Dilma Rousseff. Eles consideraram que a petista usou “tom claro e com teor eleitoreiro” no discurso de entrega de 426 unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida no Espírito Santo. 
No evento, no último dia 2, Dilma disse: “O que você sinalizar agora, em 2014, vai ser previsto para 2015, 2016, 2017 e assim sucessivamente. Por isso, nós estamos pensando na terceira etapa.” Para a coligação tucana, a natureza eleitoral do discurso está presente na mensagem de continuidade e na ampliação do programa habitacional. Se o tribunal considerar esse entendimento, Dilma poderá receber multa de R$ 5 mil e R$ 25 mil. (GC)
Fonte: Por PAULO DE TARSO LYRA, JOÃO VALADARES e GRASIELLE CASTRO do Correio Braziliense

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