quinta-feira, 24 de abril de 2014

Aeroporto JK: cenário de desordem a 49 dias do Mundial


Em meio a um verdadeiro canteiro de obras, passageiros relatam desconforto ao utilizar terminal

A 49 dias da Copa do Mundo, os reflexos da ampliação e modernização do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek ainda são uma perspectiva distante. Por lá, o quadro é de desorganização e desconforto. No embarque e desembarque, passageiros dividem espaço com andaimes, tijolos e sacos de cimento. Na praça de alimentação, o cheiro de tinta e a poeira parecem ser ingredientes   das refeições.
A realidade, comparada a outros países, é ainda mais desanimadora. A opinião é do empresário Paulo Rodrigues, 31 anos. Nascido em Portugal e residente na Suécia, ele relata que sempre vem a Brasília e ultimamente os transtornos no embarque e desembarque vêm aumentando.
 “Hoje é um dia relativamente tranquilo, mas a cena é de bagunça. No desembarque internacional, não há informação de nada. Está tudo mal sinalizado. A sorte é que, por viajar muito, eu tenho uma noção e me viro mais facilmente”, salienta o empresário.
A falta de ar-condicionado também é criticada pelo empresário: “É um calor insuportável lá dentro. Quando há atraso, é ainda pior”, diz. Leitor assíduo da imprensa internacional, ele assegura que a preparação do Brasil para a Copa do Mundo tem sido uma preocupação mundial. “Há uma incerteza do que vai acontecer. O transporte público, o deslocamento dentro do próprio aeroporto... tudo vai ser um desafio”, pontua.
Para o fotógrafo Carlos Veras, 70 anos, no entanto, mesmo diante dos problemas atuais, há possibilidade “de as coisas tomarem prumo e tudo sair bem até a Copa”. Segundo ele, o potencial humano do brasiliense fará a diferença.
Alimentação indigesta
Ao pagar uma passagem aérea, o passageiro espera que as necessidades básicas sejam atendidas, isso inclui ter o direito de fazer uma refeição em local e condições adequados. Mas, no Aeroporto JK, ao lado da praça de alimentação há uma espécie de canteiro de obra. Ali, os usuários fazem suas refeições de forma improvisada e sem comodidade.
“Essas obras têm sido feitas de forma inconveniente, principalmente na praça de alimentação. Fui obrigado a me deslocar em função do forte cheiro de tinta e do barulho excessivo”, ressalta o empresário  Jorge Maria de Araújo, 67 anos.
Segundo Jorge, a presença de elementos como poeira e cheiro de produtos químicos são um risco à saúde. “A engenharia deveria fazer uma divisão melhor entre as obras e a parte da alimentação. É um desrespeito conviver com isso”, diz.
Usuário paga caro, mas não tem retorno
O empresário  Jorge Maria de Araújo nasceu em Portugal, mas mora há 40 anos no Amapá, e costuma viajar para outras cidades. O passageiro  ressalta que não existe uma contrapartida justa entre o valor pago pelos usuários e os serviços oferecidos. “Pagamos impostos e tarifas muito caras, não é normal passarmos por isso”, considera.
Para Araújo, o atendimento prestado aos clientes também está em descompasso com as normas previstas. “Estou aqui desde cedo e não vi um atendimento bom”, diz. Declaradamente apaixonado pelo Brasil, ele garante que deseja que a capital do País tenha condições de receber a Copa. “Mas tenho minhas dúvidas, estou preocupado”, salienta.
Na visão do empresário, a falta de planejamento pode ter sido a responsável pela letargia das obras. “Em outros países, como Qatar, que sediará a próxima Copa, as obras estão em estado mais adiantado do que aqui”, argumenta, dizendo-se decepcionado.
 
Espaço “nem parece o Brasil (?!)”

Inaugurada na semana passada, a nova sala de embarque para voos domésticos parecia uma alternativa para minimizar os percalços sofridos pelos usuários. Com vista panorâmica para o pátio de aeronaves, o espaço deve oferecer variedade de restaurantes e pontos comerciais. Durante  a inauguração, a afirmação de que o terminal nem parecia o Brasil, feita pelo ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, causou polêmica e foi criticada pela presidente Dilma Rousseff.  
Apesar da enaltecerem a nova estrutura,    alguns passageiros reforçam que  ajustes ainda devem ser feitos para que o espaço alcance o nível ideal. “As esteiras deram problema e ficamos aguardando mais de uma hora. Parece pouco, mas a gente já viaja com todo o tempo programado”, declara o bancário Divino Antônio Alves, 33 anos. Segundo ele, a “borracha da esteira estava nitidamente desgastada”, relata.
 
Bagagens
O também bancário Ronan Dias, 33 anos, faz observação parecida: “o equipamento é novo, mas com utensílios, como a borracha, velhos”, declara. Além disso, ele frisa que há uma desorganização na colocação das bagagens no equipamento. “A gente fica meio perdido, pois vem bagagem de várias localidades”, disse.
Quem também teve problemas com sistema de controle de bagagem foi o técnico de máquinas Adriano Rodrigues, 40 anos. “Minha bagagem sumiu e só apareceu após quase duas horas”, conta. Mas, segundo o passageiro, o incidente não foi o maior transtorno. “Enquanto esperava, a falta de ar-condicionado era infernal”, conta.
“Uma senhora de cerca de 90 anos  passou mal, teve que se acomodar no carrinho que transportava sua bagagem”, relata. De acordo com ele, a falta de informação também foi um agravante. “O nível de tratamento por parte dos funcionários precisa melhorar. Ninguém informa nada”, diz.
 
Estacionamento
De acordo com outra  passageira  do Aeroporto JK, que preferiu não se identificar, a segurança dos aeroportos também deixa a desejar. “No último estacionamento não tem cancela, só um guarda fica lá de vez em quando. Chegar à noite é assustador” relata a passageira, que cobra mais atenção da administração do terminal com a segurança dos motoristas.
 
Voo atrasa e passageiros ficam na mão
Após ganharem uma viagem da empresa onde trabalham, 26 pessoas saíram de São Luís (MA) com destino à Natal (RN). No entanto, para chegar ao destino, houve conexão no Aeroporto JK. O voo  da TAM, até Brasília, estava previsto para às 7h08, mas decolou   somente às 9h44, chegando às 11h45. Com isso, o grupo perdeu o segundo voo, agendado em outra companhia, e foi informado de que só teria outro voo 24 horas depois.
Os passageiros informaram que não receberam nenhum tipo de suporte por parte da operadora. “Se atrasou, a culpa era deles. Mas eles simplesmente falaram que não tinham nada com isso”, conta o vendedor Euzo Hofmam, 26 anos. “Como vamos ficar aqui 24 horas com recursos próprios? Não temos condições. Eles atrasaram e agora falam que não podem fazer nada. É muito descaso”, declara.  
Procurada pela reportagem, a TAM   informou que o voo decolou com atraso  por conta de problemas meteorológicos. A empresa disse que “lamenta o transtorno e ressalta que prestou toda a assistência necessária”. A TAM confirmou que foi oferecida a opção de reacomodação em um voo somente hoje. Os passageiros optaram por embarcar ontem  com recursos próprios.
 
 
 Versão Oficial
Segundo o Consórcio Inframerica,  algumas áreas do aeroporto continuam em obras e as reformas e ampliações estão sendo entregues gradativamente. A administradora do terminal destaca que a situação é temporária. Quanto às reclamações referentes ao ar- condicionado, a empresa afirma que “está realizando também a modernização e a reforma completa do sistema central. O processo de substituição   poderá afetar algumas áreas pontuais”.  Já em relação às esteiras, a consórcio explica que houve “a troca das antigas esteiras de bagagem  por equipamentos de última tecnologia”. De acordo com a Inframerica, as esteiras recentemente inauguradas estão em fase de operação assistida até final de abril, o que pode gerar paradas para ajustes operacionais. Quanto aos questionamentos sobre o atendimento prestado pelos funcionários, a companhia afirmou que “a equipe   foi reforçada e funciona 24h por dia. Todos os atendentes são bilíngues e treinados para auxiliar e responder as dúvidas dos passageiros”, concluiu. O estacionamento,   criticado por uma passageira, “ainda funciona com acompanhamento de um funcionário ao lado da cancela, pois todo o sistema será modificado”, detalha.   A Inframerica ressalta que as obras contemplam as regras de acessibilidade para melhor atender passageiros portadores de necessidades especiais. Integrantes da Inframerica criaram um Comitê de Acessibilidade, para sinalizar as mudanças que precisam ser feitas,   e a equipe de atendimento ao cliente foi treinada.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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